segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma Economia Baseada em Recursos: Um Estudo da Vida Real de Culturas Isoladas (tradução PT-BR)

Traduzido por mim, com a maior fidelidade possível, a partir do original em inglês "A resource-based economy: A real life study of isolated cultures", publicado em 17 de março de 2012 por Mikael Wafin (se você, assim como eu, não confia em tradutores como eu, chega lá!).


"Eu estava assistindo a um documentário da BBC sobre o Pacífico Sul, no qual são mostradas diferentes ilhas isoladas nesse oceano e como elas tem sobrevivido com pouco ou nenhum contato com o mundo moderno. O programa apresentou a fascinante Ilha da Páscoa com suas famosas estátuas de pedra chamadas Moai."

"A Ilha da Páscoa era florescente em seus primeiros anos de colonização humana com largas florestas e grandes colônias de aves. Mas com o excessivo corte de árvores e caça de aves, muito da floresta frondosa e todos os pássaros nativos vieram à extinção. O corte excessivo da floresta foi forçado principalmente pela competição entre as tribos nativas quanto a qual delas iria criar a maior estátua de pedra, já que eles precisavam das árvores para transportar as estátuas pela ilha. Essa ignorância do conceito de conservar os recursos existentes resultou em um grave declínio da população e teve um impacto extremo na sobrevivência dos habitantes nativos e das gerações futuras. Hoje a Ilha da Páscoa ainda encontra-se despida das antigas e poderosas florestas."

"O documentário seguiu em frente para examinar outra ilha isolada do Pacífico Sul chamada Anuta. Anuta tem praticamente as mesmas condições da Ilha da Páscoa, isolada e vulnerável com seus recursos limitados. A diferença entre Anuta e Ilha da Páscoa é principalmente a atitude cultural. Enquanto as antigas culturas da Ilha da Páscoa tinham uma atitude competitiva uma com a outra e pouco respeito pelos recursos existentes, a população de Anuta é o oposto. Consideração pelos outros é a espinha dorsal do povo anutano. Eles têm uma filosofia chamada 'Aropa', que é um conceito de doar e compartilhar com os outros e é uma linha guia para como tratar um ao outro. Um exemplo dessa filosofia é que toda família na ilha recebe uma unidade de terra para cultivar comida para alimentar-se e também àqueles a sua volta. Eles estão bem cientes da escassez de recursos e da importância de cuidar um do outro. Eles sabem o que têm que fazer a fim de sobreviver e prosperar."

"É bastante óbvio qual atitude cultural é a mais sustentável. Os fatos e os exemplos da vida real estão aí. Competição e crescimento infinito dentro de um sistema finito não eram, não são e jamais serão sustentáveis. Se ao menos pudéssemos aprender com as experiências dessas ilhas isoladas, poderíamos mudar a inevitável destruição de nossa ecologia, que vem sendo preparada para nós pelo corrente sistema de mercado monetário."


Agora, alguns comentários...

Claro que o exemplo de uma pequena ilha isolada no oceano não pode ser tão diretamente aplicado ao mundo todo. A evidência gritante da limitação de recursos favorece o desenvolvimento de uma consciência adequada a essa realidade, e o estilo de vida que se desenvolve nesse cenário é obviamente muito mais simples. Mas o mundo como um todo também é limitado em seus recursos, e em algum momento eles atingem a exaustão. Recursos mais abundantes e mais diversificados até propiciam um estilo de vida mais sofisticado e complexo, mas se não houver um equilíbrio o esgotamento é questão de tempo. Ou seja, a diferença entre uma ilha e o mundo não é de princípio, mas de escala.

Além do mais, destaca-se a diferença entre as duas ilhas. Se os anutanos viram o óbvio da sua realidade, por que os habitantes da Ilha da Páscoa, capazes de fazer maravilhas, não viram essa mesma realidade antes que fosse tarde demais? E de que serviram suas grandes realizações depois que seu ambiente já encontrava-se devastado? Não estaria a humanidade como um todo nesse caminho? Em outra escala, claro.

O autor mostra-se bastante conciso em sua narrativa (afinal, em tempos de twitter e facebook, ninguém lê nada com muito mais de meia página), mas observa-se nas entrelinhas que compartilhamento e colaboração foram as formas encontradas de lidar com poucos recursos e evitar o desperdício. Cada família utiliza os recursos na dimensão de sua necessidade e compartilha com os demais na medida de sua possibilidade. Acumulação, tanto de produtos como dos meios de produção, seria inviável nessa sociedade, pois forçaria os menos favorecidos contra a conservação dos recursos naturais, comprometendo as gerações futuras.

Em tempo, não assisti ao documentário e não, nunca estive em Anuta ou Ilha da Páscoa. Mas mesmo que isso fosse uma fábula de ficção, ainda assim faria sentido, e é o que importa.

Fontes (conforme o original):

Feinberg, R (1988)
'Polynesian Seafaring and Navigation: Ocean Travel in Anutan Culture and Society.' Ohio: Kent State University Press.

A. Strathern, P. Steward, L.M. Carucci, L. Poyer, R. Feinberg, C. Macpherson (eds) (2002)
'Oceania: An Introduction to the Cultures and Identities of Pacific Islands.' NC Carolina Academic Press.

Feinberg, R (2004)
'Polynesian Life ways for the 21st Century. Prospect Heights,' IL: Waveland Press.

Paper discussing socio-political change on Anuta, Feinberg, R (1982)
(PDF document)
http://patriot.lib.byu.edu/PacificStudies/image/10910221792004_vol_5_no_...

http://en.wikipedia.org/wiki/Easter_Island

Nenhum comentário:

Postar um comentário