tag:blogger.com,1999:blog-32828342806468849562024-03-05T12:14:18.589-08:00UltracontemporâneoSobre a Vida, o Mundo e muito mais. Como chegamos onde estamos e para onde iremos - se lá chegarmos. Idéias contemporâneas para realidades futuras. Tudo com muito senso crítico, opinião embasada e humor ferino - ou não.
Mais em: www.facebook.com/ultracontemporaneoGustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-72527031664836314812013-08-09T07:08:00.000-07:002013-08-09T07:08:55.163-07:00A criança em cada um de nós<i>É célebre uma frase que diz que existe uma criança dentro de cada um de nós. Refere-se àquelas características que relacionamos com a infância, como a alegria de brincar ou a inocência. Mas refere-se também à vaga sensação de perda, que sofremos ao longo da infância, de características essenciais ao ser humano, como a criatividade, a sensibilidade e a capacidade de questionar.</i><br />
<br />
<b>O sistema educacional,</b> os valores tradicionalmente passados pelos pais e a publicidade que nos cerca por todos os lados nos condicionam tremendamente antes de chegar à idade adulta. Para a grande maioria, sufocam o espírito criativo e crítico para formar trabalhadores submissos e consumidores compulsivos, principalmente consumidores de distrações tipicamente infantis, como programas de TV <i>bobos </i>e shopping centers de vitrines coloridas. Cidadãos conservadores com ideário infantil, como enxergar o diferente como perigoso, a crítica como ofensa e a autoridade como proteção.<br />
<br />
<b>Somos crianças mal crescidas</b> quando defendemos soluções infantis ou argumentos simplórios. Quando nos posicionamos em relação às coisas por paixão e deliberadamente de costas para os fatos. Tipo "não sei o que é mas não concordo". Ou "é a minha opinião, e não importam os fatos". Ou ainda "não quero ouvir, tenho raiva de quem discorda de mim". Ninguém diz com essas palavras, mas muitos agem dessa forma.<br />
<br />
<b>Só uma criança</b> acharia que deve ter sua vontade respeitada mesmo que seja desprovida de fundamento e lógica. E só uma criança acreditaria que alguém deve dar soluções mágicas para seus problemas, ou que uma solução não pode servir para mais ninguém se ela própria não gostar dela - ainda que sem argumentos que sobrevivam a uma análise lógica. Ou um adulto que age como criança.<br />
<br />
<b>Deveríamos continuar sendo crianças</b> em nosso desenvolvimento interior, cultivando sempre a criatividade, o espírito questionador e a curiosidade de aprender; mas não na hora de tratar questões e problemas da sociedade em que vivemos, de atuar politicamente como cidadãos adultos dotados de responsabilidade. Hoje, parece que muitos fazem justamente o contrário.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-53630998958542467372013-07-29T10:34:00.000-07:002013-07-29T10:48:32.551-07:00O Papa é Pop - mas não me engana<i>Não se fala no novo papa sem mencionar o quanto ele é humilde, simples, simpático, um sopro de renovação... Enfim, um sucesso de marketing como nunca se viu antes na Igreja Católica. Afinal, as igrejas estão em consonância com as tendências atuais do marketing e da promoção institucional, onde personalidades e gestos são mais importantes que ações ou idéias.</i><br />
<br />
<b>O papa fala bonito,</b> agrada, acena pra galera, sorri para as câmeras mesmo enquanto ouve um agudo do Luan Santana. Fala em renovar a igreja, em mudar o mundo através da fé, coisas esperançosas para toda aquela gente que quer continuar se declarando católica, apesar de discordar de quase tudo que sua igreja fala. Mas, e aí?<br />
<br />
<b>Falar coisas como</b> <i>"aceitar Jesus no coração"</i> é o mesmo que não dizer nada, apenas uma mensagem simpática que cada um entende como a melhor coisa possível em sua própria projeção. Tipo <i>"yes, we can"</i> ou <i>"amo muito tudo isso"</i>. Ou seja, a igreja segue na batida dos marqueteiros modernos. Para mudar não mudando. Afinal, as idéias permanecem todas as mesmas. Quando provocado a falar de um tema mais concreto - homofobia por exemplo -, o papa se torna vago e prolixo, mas a igreja é clara em suas ações. A panfletagem feita entre os jovens da Jornada Mundial no Rio concentra-se em criticar direitos de reprodução, direitos homoafetivos, práticas sexuais, sempre utilizando-se de dogmas ultrapassados e argumentos preconceituosos.<br />
<br />
<b>E isso justamente entre jovens!</b> Se a igreja não pode flexibilizar sequer sua posição em relação aos métodos contraceptivos, ela pretende se renovar em que? Pelo jeito, em sua propaganda institucional, e tão somente. A agenda continua tão conservadora e retrógrada quanto antes, mas agora é apresentada em discursos sobre mudança, renovação, <i>"revolução através da fé"</i>. Que revolução é essa? Promover a união heterossexual reprodutiva. Sério?<br />
<br />
<b>Tudo bem a igreja pensar o que quiser,</b> desde que se atenha a seu espaço. Não é o que vemos, principalmente na América Latina, continente que finalmente começa a ensaiar uma agenda mais progressista, que tanta falta faz, e que encontra na igreja católica um obstáculo. Era tudo o que precisávamos, mais uma força conservadora - agora turbinada por técnicas de marketing modernas.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-43693642288321647492013-07-26T12:40:00.000-07:002013-07-26T12:40:05.670-07:00Blogman - O Retorno<i>O blog continuava por aí, para quem o procurasse no google, mas o sujeito por trás do blog escafedeu-se por um bom tempo. Tempo suficiente para escrever sobre isso no retorno.</i><br />
<br />
Comecei esse blog basicamente porque gosto de escrever, não tenho oportunidade de fazer isso em minhas atividades cotidianas e me interesso por vários assuntos que podem interessar também a outras pessoas. Mas essas pessoas nunca foram muitas. Depois de alguns meses, senti como se estivesse escrevendo para mim mesmo, então quando cansei, simplesmente parei. Assim mesmo. Sem nem avisar. Peço desculpas a todos os meus 6 leitores.<br />
<br />
Mas nesse meio tempo aconteceram coisas que me deram vontade de escrever um pouco mais que um tweet ou um post de facebook. Aí eu pensava no blog, mas pensava também, "agora já era, ficou parado por tanto tempo"... Então essa postagem fica valendo como uma reestréia, para quem estranhar muito o salto de quase um ano no histórico.<br />
<br />
Aos meus 6 leitores, não se preocupem. Eu não estava em coma nem em cativeiro. E me interei de questões bem interessantes nesse meio tempo, sobre as quais pretendo falar em breve. Contudo, temo que o blog não manterá a mesma qualidade fantástica que o tornou tão famoso e popular. Como o motivo para que eu tivesse parado foi a sensação de que era muito trabalho para pouco efeito, não pretendo mais catar imagens bacaninhas para ilustrar os textos, nem fazer revisões de ortografia ou textos muito elaborados. Mas as idéias permanecem igualmente ferinas, revolucionárias e potencialmente ofensivas.<br />
<br />
Então está combinado.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-68965285977801137522012-09-25T12:48:00.001-07:002012-09-25T12:48:32.836-07:00Política Contemporânea - O Lento Processo de Despertar<i>Primeiro, a boa notícia: sabe toda aquela estranheza e inconformidade
que você sempre sentiu em relação a políticos, partidos e campanhas
eleitorais? Pois você estava certo. Isso tudo realmente não funciona e
não tem salvação, precisa ser substituído urgentemente por algo melhor.
Agora, a má notícia: sabe tudo aquilo que você deveria fazer -
acompanhar os problemas da sua cidade e país, participar das discussões,
construir soluções e fazer sua parte - mas nunca fez? Pois é, para
melhorar alguma coisa, você terá que começar a fazer...</i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhONVJBX-gsbFS2fH2bstoAD3dp6WRHPo2MWtZlelEJkddPfNSd1aKcVit9YJ-H-yWy2dzWUILS-llRVUU_lvB0zOei4we_ni0zuhLelBaG9Krl3pYAHx-In2l3CIhzC9I4dwklEgcmWCg/s1600/macaquinhos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhONVJBX-gsbFS2fH2bstoAD3dp6WRHPo2MWtZlelEJkddPfNSd1aKcVit9YJ-H-yWy2dzWUILS-llRVUU_lvB0zOei4we_ni0zuhLelBaG9Krl3pYAHx-In2l3CIhzC9I4dwklEgcmWCg/s1600/macaquinhos.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cidadão comum e a Política: "não quero ouvir nem ver nada, e também não falo sobre isso - quando mudar me avisem..." </td></tr>
</tbody></table>
<b>Imagino que quase todos</b> sintam quase <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/06/o-eleitor-como-mercado-e-o-voto-como.html" target="_blank">o mesmo que eu quando vejo campanhas eleitorais</a> - como a atual - e pensem mais ou menos o seguinte:
"que porcaria". E é isso mesmo. As campanhas são uma porcaria, as
gestões são medíocres e a esmagadora maioria dos personagens não
mereceria a oportunidade nem de administrar uma reunião de condomínio. E
a cada eleição vai crescendo a sensação de que isso não tem jeito, não
vai melhorar nem mudar. Pois, mantidas as condições gerais em que o
processo político acontece, <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/politica-contemporanea-o-fracasso-da.html" target="_blank">não vai mesmo</a>.<br />
<br />
<b>O problema é que esse processo</b> não existe por acaso. Se o processo
político foi colocado nas mãos dos partidos e lobistas, foi a própria
sociedade que assim permitiu. O indivíduo comum faz questão de dizer que
não se envolve com política, não gosta e não quer saber a respeito.
Bem, todos nós nos envolvemos com política de alguma forma, queiramos ou
não, basta viver em uma sociedade. Aí veio o senso comum e criou essa
entidade distante, <i>"a Política"</i>, coisa de partidos e lobistas, para que
os indivíduos possam extravasar sua alienação e viver confortavelmente
com ela.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeFMK179pwC-8zbZb7BQmkqIWCtiQoi9bc5L85q_oiqBHdCwwIP7jCg5Skr2eCEHmCbrcZ3xodaANH7zhWe_MctngStItGqBuQBD9FpHD-hdXOgTp6grzu-2Gh5_vBcdCsomwWmTHcWIQ/s1600/lobo_rebanho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeFMK179pwC-8zbZb7BQmkqIWCtiQoi9bc5L85q_oiqBHdCwwIP7jCg5Skr2eCEHmCbrcZ3xodaANH7zhWe_MctngStItGqBuQBD9FpHD-hdXOgTp6grzu-2Gh5_vBcdCsomwWmTHcWIQ/s1600/lobo_rebanho.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Sempre bom poder contar com alguém realmente capaz para cuidar de nós e de nossos problemas...</td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4zWWZpt3Jy0A2JSDxl4Gg4HKZNswqxOhgm17BjHyr9vVpGtJEdB0fZ6lRqVfnRKCol60cJoqWVRtO-W0oj_wnXqZC53NmbGquKDMFEc80C5SW8xRLlQzwE7D2fR3C6Y5a_GAvYxKMb14/s1600/lobo_ovelha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<b>O tal personagem político,</b> hoje em dia, tem como função social, aos
olhos do indivíduo comum, absorver a responsabilidade e culpa pelos
problemas e carências da sociedade, de modo que o indivíduo sinta-se
livre para apenas reclamar e lamentar - jamais fazer efetivamente nada,
nem sequer cobrar um melhor desempenho dos políticos que ele mesmo
responsabiliza. Talvez isso explique porque nove em cada dez gestores
públicos são reeleitos no Brasil - sendo que oito em cada nove fazem
gestões medíocres, ou até pior. <br />
<br />
<b>Em um país com políticos tão ruins</b> e de mau desempenho, reeleição
deveria ser <u>uma rara exceção</u>. Se isso não acontece, é devido, primeiro,
ao conformismo do cidadão, que prefere deixar as coisas ruins para
continuar reclamando sem esperar de fato nada muito melhor, tendo um
agente público medíocre a quem responsabilizar; segundo, à alienação
generalizada que acompanha um processo eleitoral, que faz com que muitos
votem no nome em evidência por ser mais fácil de lembrar ou para não se
dar ao trabalho de avaliar outro nome qualquer. <br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4zWWZpt3Jy0A2JSDxl4Gg4HKZNswqxOhgm17BjHyr9vVpGtJEdB0fZ6lRqVfnRKCol60cJoqWVRtO-W0oj_wnXqZC53NmbGquKDMFEc80C5SW8xRLlQzwE7D2fR3C6Y5a_GAvYxKMb14/s1600/lobo_ovelha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4zWWZpt3Jy0A2JSDxl4Gg4HKZNswqxOhgm17BjHyr9vVpGtJEdB0fZ6lRqVfnRKCol60cJoqWVRtO-W0oj_wnXqZC53NmbGquKDMFEc80C5SW8xRLlQzwE7D2fR3C6Y5a_GAvYxKMb14/s1600/lobo_ovelha.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nossos governantes são sempre escolhidos com muito cuidado e olhar crítico...</td></tr>
</tbody></table>
<b>Qualquer saída dessa situação</b> passa por uma mudança radical nessa
postura distante do cidadão. Se a raiz do problema é deixar para outros a
responsabilidade que é essencialmente nossa, o cerne da solução é tomar
de volta essa responsabilidade. Não apenas cobrar permanentemente o
desempenho dos agentes públicos, mas assumir o direito de lhes dizer o
que fazer, quando e como. E, muitas vezes, sempre que possível,
efetivamente <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/06/tempo-de-semear-o-exemplo-dos-pequenos.html" target="_blank">fazer com seus próprios meios</a>.<br />
<br />
<b>Já escrevi antes sobre</b> a tendência do <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/o-capital-colaborativo-e-economia-do.html" target="_blank">trabalho colaborativo</a> e da
<a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/o-estado-de-ineficiencia-e-cultura-do.html" target="_blank">política ao estilo "faça você mesmo"</a>, recursos possíveis a uma <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/04/terceira-revolucao-industrial-como.html" target="_blank">sociedade em rede</a>, e acho isso suficiente para ilustrar de que forma as pessoas
assumiriam a frente no processo político de forma produtiva e
(auto)organizada, e não em uma baderna generalizada - coisa que um
político profissional gostaria que acreditássemos. Se hoje precisamos de
"tutores" exercendo a política por nós, é porque não a praticamos e nos
habituamos a isso. Mas se quisermos nos livrar desses tutores, temos
que abandonar essa zona de conforto - que no fundo não é nada
confortável... <br />
<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0-FkJIOtZ6XROT5D7Ul-cha6HRhoRiSCAaHrenJ3e0k-w8HhJUisZhDZ_ul2Becmybn_fCE_gLJzzmqz55qBE9pZ-CSrrLmobiLg_ZsqN7GhYZinn1iXiwKCJ0I8DxODbaaRRu9Rne0Y/s1600/povo_poder.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0-FkJIOtZ6XROT5D7Ul-cha6HRhoRiSCAaHrenJ3e0k-w8HhJUisZhDZ_ul2Becmybn_fCE_gLJzzmqz55qBE9pZ-CSrrLmobiLg_ZsqN7GhYZinn1iXiwKCJ0I8DxODbaaRRu9Rne0Y/s1600/povo_poder.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O que falta às pessoas não é poder para mudar as coisas, é a consciência de ter esse poder.</td></tr>
</tbody></table>
<b>A abstinência política</b> da maioria da nossa sociedade atual é
assustadora, e a distância que muitos mantêm em relação a qualquer
discussão mais séria torna difícil quebrar essa postura. Quer dizer,
para começar a conscientizar politicamente uma pessoa, é preciso que ela
já tenha a consciência de que é importante conscientizar-se. Que
entenda, pelo menos, que <i>"política"</i>, em essência, não é aquela
negociação de bastidores entre candidatos, marqueteiros e lobistas, mas
sim a discussão permanente sobre os problemas da sociedade, suas
alternativas de solução e o processo de construção do entendimento entre
as pessoas - tudo o que há de mais natural e saudável em uma vida em
sociedade.<br />
<br />
<b>Para quem parte do princípio</b> de que sim, o caminho é esse - retomar a
ação direta nas discussões e decisões -, a percepção é de que esse
processo se dá de forma angustiantemente lenta. Lenta e silenciosa,
ombro a ombro, consciência por consciência... E a corrida é para que
consigamos formar massa crítica suficiente antes que o sistema atual
definitivamente entre em colapso pela descrença e inoperância, e que as
pessoas se voltem em desespero para opções ainda mais retrógradas - bem
que os tutores gostariam disso.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-10330247383030543532012-09-12T18:58:00.000-07:002012-09-12T18:58:07.148-07:00Ruas Esquecidas - O Abandono do Espaço Urbano<i>Quem já não ouviu uma pessoa mais velha dizendo "no meu tempo,
brincávamos no meio da rua" ou "havia uma pracinha no lugar desse
shopping center" ou ainda "saíamos a pé de noite porque era seguro"...
Sim, há muito de saudosismo aí, é natural do ser humano. Eu mesmo não
sou tão velho e fazia várias coisas "no meu tempo". Mas há uma constante
nessas histórias de antigamente que podemos comprovar ainda hoje: a
relação das pessoas com seu próprio meio físico está esfriando. Estamos
cada vez mais distantes do próprio espaço em que vivemos.</i><br />
<br />
<span id="goog_597285772"></span><span id="goog_597285773"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhldxkCVfrVgAUqWXXODHPvWJFmqLE0Yr-dTFX-ZvbmSkwb32ZE6fA3fytEnYW66Z6gclqTdeOY12Cw5AMfSEBDbwsmvDGRdmKecId078GARbZrG7C-K3wj5a7AeGZCBrxP04S3Vd_4_Z0/s1600/rua+antiga.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhldxkCVfrVgAUqWXXODHPvWJFmqLE0Yr-dTFX-ZvbmSkwb32ZE6fA3fytEnYW66Z6gclqTdeOY12Cw5AMfSEBDbwsmvDGRdmKecId078GARbZrG7C-K3wj5a7AeGZCBrxP04S3Vd_4_Z0/s1600/rua+antiga.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>"Antigamente, as ruas eram mais bonitas e agradáveis..."</i></td></tr>
</tbody></table>
<span id="goog_597285772"></span><span id="goog_597285773"></span><br />
<b>As ruas são apenas</b> meios de passagem, e quanto mais rápido se passar
por elas melhor. Praças e recantos verdes são zonas de esquecimento,
nem sequer as vemos quando passamos. A maioria dos espaços públicos de
uma típica cidade grande são como "não-lugares", não existem de verdade,
não são usados, não são lembrados. Abandonamos os espaços de uso comum
para viver em espaços privados: a casa, o condomínio, o escritório, o
shopping center - e o próprio carro, que é a maneira de ir de um espaço
privado para outro sem deixar de utilizar uma espécie de espaço privado.<br />
<br /><b>As razões dessa realidade</b> não são de todo ruins. A tecnologia, por
exemplo, nos permite fazer muito sem precisar sair da cama. A
qualificação do trabalho leva mais gente para dentro de escritórios ou
laboratórios. A melhoria do poder aquisitivo permite que mais gente
tenha carro, computador, uma boa casa.<br />
<br /><b>Mas será que não estamos</b> perdendo pelo caminho algum tipo de
essência? Não deterioramos as relações humanas quando substituímos o
contato direto pelo remoto? Tudo aquilo que chamamos "progresso" e
"desenvolvimento", precisaria mesmo cobrar o preço que cobra da natureza
e do próprio habitat de convívio humano? Quando aplaudimos o projeto de
um novo shopping ou de um conjunto de espigões sobre uma área verde -
de preferência junto a um lago ou rio, para valorizar a vista, apesar de
que shoppings não têm vista -, chamamos de progresso e tachamos de
atrasados os que são contra - ecochatos, ecobobos. E se a noção de
progresso dos outros for diferente da nossa? O mundo é de todos. Estamos
respeitando a diversidade ou simplesmente patrolando o espaço dos
outros à base de concreto?<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9Eic0NvVQ7l4NiiFMZDP7Fa1DQEkI5SnGsGtUWo9l69J05v9SEIipQryTY37NJAsrgj8pRH39HV8f_Fa-HxaB25cnyKJY5FCB-TGnVXQdfwDBm0T6H1XFu4XzHe_3nxmULfAx6CfUWuk/s1600/reden%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9Eic0NvVQ7l4NiiFMZDP7Fa1DQEkI5SnGsGtUWo9l69J05v9SEIipQryTY37NJAsrgj8pRH39HV8f_Fa-HxaB25cnyKJY5FCB-TGnVXQdfwDBm0T6H1XFu4XzHe_3nxmULfAx6CfUWuk/s1600/reden%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Em raros momentos de contato com seu meio, as pessoas lembram o quanto isso é importante. Depois voltam a esquecer.</td></tr>
</tbody></table>
<span id="goog_597285781"></span><span id="goog_597285782"></span><b>Essa tendência</b> de enclausurar-se - de casa pro trabalho e
vice-versa, de preferência dentro de um carro durante o deslocamento -
já foi chamada "vida no casulo". Não me parece algo muito natural para
um ser humano. Não é nem para a borboleta, depois que nasce. De alguma
forma o ser humano encantou-se com os confortos e facilidades modernos e
passou a achar todo o resto antiquado, ao invés de compatibilizar as
coisas. Pois as mesmas facilidades que levam as pessoas a viver em
casulos serviriam para que as pessoas trabalhassem menos, se ocupassem
menos com deslocamentos, cuidados com casa ou carro, deixando mais tempo
para aquilo que realmente significa na vida - passear, conviver,
curtir, festejar.<br />
<br /><b>Algum urbanista já disse</b> que uma rua movimentada é uma rua segura.
Um espaço que é visto é cuidado, naturalmente. As pessoas o percebem e
se importam com ele. No Brasil, percebemos clara relação entre o
abandono dos espaços e o aumento da sensação de insegurança. E logo
forma-se um círculo vicioso, e passamos a achar que é a insegurança que
nos empurra para dentro de casa. Mas ruas movimentadas não são
inseguras. Há barulho e agitação, alguns não gostam, mas não há ameaça à
integridade física - elemento gerador da sensação de insegurança.<br />
<br /><b>Algum outro também disse</b> que um espaço bem cuidado inspira as
pessoas a preservá-lo em vez de depredá-lo. Aqui temos outro círculo
vicioso. Preferimos pensar que não vale a pena cuidar dos espaços porque
serão depredados, e aí eles ficam cada vez mais degradados e
convidativos às más intenções. Como não apreciamos os espaços que vemos -
porque não são bem cuidados -, não os utilizamos e passamos a
ignorá-los. Tornam-se "não-lugares", cantos obscuros no meio da cidade.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRybgBawpOzO0Z-s3WLbxJHr4kzzISaPUrgq0Bd07UVeaboWQp1oYbQY80B7TcBZvPX5nj0tZtrPU9peRPbLe0zRhtvfbRX8YOShd9SgBX1SgpxJPzS5riYN_vxAHKdmjBzbcjodjMYk/s1600/ruas+pessoas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRybgBawpOzO0Z-s3WLbxJHr4kzzISaPUrgq0Bd07UVeaboWQp1oYbQY80B7TcBZvPX5nj0tZtrPU9peRPbLe0zRhtvfbRX8YOShd9SgBX1SgpxJPzS5riYN_vxAHKdmjBzbcjodjMYk/s1600/ruas+pessoas.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quando tomadas pelas pessoas, as ruas ganham vida e tornam-se espaços de convivência.</td></tr>
</tbody></table>
<b>Tem ainda</b> mais alguém - não sou de guardar nomes - que diz que a boa
convivência humana se dá pelo exercício. Quanto mais exercitamos o
convívio com nossos semelhantes, mais os compreendemos, tornando-nos
mais tolerantes com as diferenças e capazes de nos comunicar com os
demais. Se isso funciona em ambos os sentidos, também seremos melhor
compreendidos e tolerados em nossas próprias diferenças. Novamente, um
círculo vicioso: quanto menos as pessoas convivem, mais intolerantes e
distantes elas ficam, tornando ainda mais difícil a convivência. Vemos
isso hoje, grupos que se odeiam e disputam interesses por causa de
diferenças muitas vezes mínimas.<br />
<br /><b>Chegamos a um ponto</b> hoje em que o desenvolvimento das grandes
cidades passa necessariamente pela retomada do espaço urbano, seja para
cuidar melhor dele, seja para nos aproximar de nossos semelhantes, para
trocar idéias, impressões, unir esforços na construção de novas
soluções. Na base da ocupação civil, enfrentar a insegurança urbana, a
degradação e abandono dos espaços, a intolerância e a precariedade dos
serviços públicos. Dentro de nossos casulos temos todas as ferramentas
para iniciar esse processo, mas ele só será efetivo quando se
transformar em ação física.<br />
<br /><b>Afinal, quem não sente falta</b> de melhores opções de locais para
curtir um pôr-do-sol junto ao rio, tomar uma cerveja com amigos em uma
mesa na calçada, passear de bicicleta por um parque florido, ir a pé até
um cinema de bairro e voltar para casa tomando um sorvete... o shopping
center lhe parece realmente uma alternativa à altura?Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-22629878325175373072012-09-04T15:00:00.001-07:002012-09-04T15:00:31.940-07:00Cidades Contemporâneas - Desatando o Nó da Mobilidade<i>Esse post é uma continuação direta do <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/08/cidades-contemporaneas-o-no-da.html" target="_blank">anterior</a>, quando tentei
estabelecer relação entre o problema da mobilidade urbana e o papel
central do automóvel no transporte urbano e concluí que, para se
construir novas soluções, é necessário abandonar esse velho modelo.
Agora, pretendo examinar as alternativas.</i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVnmTGipGgrpp2YT2XXuzrKc2AXpXLVvo-M7jCob6xQzugSVMQrTi8ESImDqurpIihN4UFObcGiz2G7X0wtl7JA3HyrnLw0vWU_qPgcT_qqhy-Y2Rl4v2rnnuL0eczrWAexU1KNGejQug/s1600/metro_barcelona.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVnmTGipGgrpp2YT2XXuzrKc2AXpXLVvo-M7jCob6xQzugSVMQrTi8ESImDqurpIihN4UFObcGiz2G7X0wtl7JA3HyrnLw0vWU_qPgcT_qqhy-Y2Rl4v2rnnuL0eczrWAexU1KNGejQug/s1600/metro_barcelona.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Metrô de Barcelona: sistemas de transporte sofisticados para cidades modernas.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>A engenharia de trâfego</b> tem papel importante para gerar uma
infraestrutura viária adequada e bem planejada, mas depois que a cidade
já está formada e povoada, o essencial é racionalizar o espaço consumido
pelo trânsito, para não tirá-lo das pessoas - personagens que deveriam
sempre ter a preferência dentro de uma cidade. Vejo duas maneiras de
racionalizar espaço: favorecer veículos menores e mais leves; ou
favorecer veículos com maior capacidade de passageiros. O automóvel
particular, geralmente grande demais e com passageiros de menos, não se
enquadra em nenhum dos casos.<br />
<br />
<b>O transporte urbano será sempre multimodal,</b> e nem precisa ser
diferente. Não é necessário abolir um meio de transporte em favor de
outro, apenas distribuir o espaço e a prioridade conforme o retorno
social de cada um. Carros continuarão existindo e sendo usados - não se
preocupe com isso. Mas serão usados cada vez menos, por menos pessoas e
em menos situações. Ou seja, se você realmente acha que nunca terá como
abandonar seu carro, pelo menos não terá que dividir o trânsito com
tantos outros carros. Bom, né?<br />
<br />
<b>O melhor exemplo de veículo</b> menor e mais leve é a popular bicicleta.
A diferença de dimensão entre uma ciclovia (mesmo uma das boas) e uma
avenida (mesmo uma das ruins) dispensa comentários. A interação social
que ela promove, as vantagens para a saúde física e mental, a facilidade
para aquisição e a redução de poluição são outros aspectos positivos
facilmente observáveis. Não tenho dúvidas de que uma cidade moderna que
queira oferecer qualidade de vida precisa ter uma boa rede cicloviária.
Contudo, bicicletas não servem para todos, nem para qualquer situação.
Além do que, se todos usassem, a demanda por espaço também acabaria
crescendo. Ou seja, não é essa a solução final.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnosEvTLgiWoefavfyEt23oTyuc8PWGF4nmaPmtJX94UOLYewbYP8-GYEl6h-pvFOoFoY5N1HsObljqmQmmtK0huth73K03rj_EJ-466IRAsP1IQvnQ359-0teGu60sYDOHrGtlnx6v8s/s1600/tram_strasbourg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnosEvTLgiWoefavfyEt23oTyuc8PWGF4nmaPmtJX94UOLYewbYP8-GYEl6h-pvFOoFoY5N1HsObljqmQmmtK0huth73K03rj_EJ-466IRAsP1IQvnQ359-0teGu60sYDOHrGtlnx6v8s/s1600/tram_strasbourg.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Transportes coletivos de qualidade redefinem o cenário urbano - para melhor.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Para multiplicar o espaço</b> urbano disponível, o jeito é fazer com que
muitas pessoas acessem um mesmo transporte, ou seja, transporte de
massa. Um transporte que sirva à grande maioria das pessoas na maior
parte do tempo é o que viabiliza que outros meios sejam utilizados, de
forma complementar ou alternativa, sem que grandes espaços sejam
consumidos com novas vias. Pelo seu retorno social e papel estratégico, o
transporte de massa deveria ser priorizado sempre, e muito acima de
todos os outros, assim como também deveria ser altamente valorizado
pelas pessoas.<br />
<b><br />Não importa muito</b> se esse transporte será sobre rodas ou trilhos,
subterrâneo ou de superfície - geralmente será um misto de tudo. O que
importa é que ele seja visto como bom e funcional pelos potenciais
usuários. No Brasil, a visão geral é de que transporte coletivo é ruim,
desconfortável, demorado e caro demais para a qualidade que oferece. Não
precisa ser assim. Tecnicamente, é possível oferecer um bom nível de
conforto sem grande custo, e nossos sistemas de transporte poderiam ser
organizados de forma muito mais funcional, consumindo menos tempo de
deslocamento em média e até reduzindo o custo.<br />
<br />
<b>Uma rede de linhas</b> bem distribuídas no mapa da cidade e
interconectadas será sempre mais eficiente que um monte de linhas soltas
e sobrepostas. Não é inteligente, por exemplo, cada bairro ter sua
linha até o centro em uma cidade com mais de cem bairros. Quem já
utilizou uma rede de metrô sabe que não é essencial ir da origem até o
destino com uma única linha. Trocar de linha no meio da viagem é
perfeitamente aceitável se essa troca for rápida e tranquila. Imaginando
que há ao menos uma linha na origem e outra no destino e imaginando que
todas as linhas se conectam, uma combinação de duas linhas é suficiente
para fazer qualquer trajeto dentro da rede. Ao invés de mais de cem
linhas diferentes, haveria poucas dezenas, apenas o suficiente para
cobrir o mapa da cidade. Redistribuída a frota de veículos em menos
linhas, seriam mais veículos para cada uma, reduzindo portanto o tempo de
espera - o que compensa com sobra o tempo perdido na troca de
transporte.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxr8hwDoWr6rge3Q6jIwyHgoPoMKctHpZMla4rRLQi-X79zYjR-4vlK-zj79uqnPQMhFP-mfcKGVO0qBMS2Kxhid1aXLVjX37GY97eG8Om8nTkEqnYRN5P_7YAkN_V8JLrUVSxgjYIdG0/s1600/metropoa2050finalt.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxr8hwDoWr6rge3Q6jIwyHgoPoMKctHpZMla4rRLQi-X79zYjR-4vlK-zj79uqnPQMhFP-mfcKGVO0qBMS2Kxhid1aXLVjX37GY97eG8Om8nTkEqnYRN5P_7YAkN_V8JLrUVSxgjYIdG0/s320/metropoa2050finalt.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma hipotética rede de metrô em Porto Alegre (<a href="http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=271262&page=15" target="_blank">fonte aqui</a>). Utopia? E se substituirmos algumas linhas por trams ou BRT's, mantendo o traçado e o princípio de integração e interconectividade?</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Seguindo a filosofia</b> das grandes redes de metrô - que pode ser
extendida para transportes de superfície, por que não? -, cada linha não
se preocupa em ligar dois pontos em especial, mas sim em cortar a
cidade em algum sentido, de modo que seja abrangente e que corte as
demais linhas em algum ponto mais ou menos central, permitindo as
conexões. Não é essencial, mas é importante que esses trajetos sejam
servidos por vias exclusivas, o que aproxima o transporte de superfície
da funcionalidade de um metrô, principalmente em pontos onde outros
meios de transporte disputam o espaço - a preferência deve ser sempre
daquele que leva mais pessoas, ou seja, o coletivo.<br />
<br />
<b>Esse rede deve ter</b> um número tal de linhas e estações que permita
percorrer toda a cidade - tanto bairros centrais como periferias -, sem
um número muito grande de estações por linha - o que tornaria a linha
mais lenta - mas garantindo que haja sempre uma estação próxima de cada
ponto da cidade - à distância de uma caminhada curta. Havendo sempre uma
estação próxima, sendo o tempo de espera curto e o tempo de
deslocamento também - mesmo quando há troca no meio do trajeto - e sendo
o transporte confortável e barato, pode-se imaginar que a grande
maioria optará pelo transporte coletivo, liberando grande espaço no
trânsito da cidade. É tecnicamente viável, há exemplos pelo mundo afora -
infelizmente, nenhum no Brasil.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSUgpDMeWgpOfchccNZRUxHsl1gSkyyOxm-Z5hFdBmoX45uUbSanT7n0i_uIYmsCRhF4IfTIcCLTRILlkCN2nHt37tpyaMED9nCTQMBmkPisEOzmDB-G7-0UNmlVu_2dOJRDjlRFyG0pE/s1600/tram_sevilla.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSUgpDMeWgpOfchccNZRUxHsl1gSkyyOxm-Z5hFdBmoX45uUbSanT7n0i_uIYmsCRhF4IfTIcCLTRILlkCN2nHt37tpyaMED9nCTQMBmkPisEOzmDB-G7-0UNmlVu_2dOJRDjlRFyG0pE/s1600/tram_sevilla.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma cidade baseada em tranporte de massa tende a aproveitar seu espaço urbano de forma mais harmônica.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Um ótimo uso para esse espaço</b> que será liberado são as ciclovias.
Vias peatonais (para pedestres) também são importantes em áreas mais
centrais, de lazer ou de grande circulação de pessoas e serviços. Se
ciclistas e pedestres forem devidamente conectados a estações da rede de
transporte coletivo, aí teremos a situação ideal. Estamos falando de
uma cidade mais humana, acolhedora, agradável, mas também estamos
falando de menos poluição, mais acessibilidade, mais circulação (que
gera mais segurança nas ruas) e até mesmo uma maior atividade econômica,
graças a um maior acesso a comércio, serviços e entretenimento. Sem
falar no maior contato humano diário, fundamental para a manutenção do
tecido social que governa e desenvolve uma cidade.<br />
<br />
<b>A implementação dessa rede</b> de transporte não é tão cara ou demorada
quanto se diz. Trilhos e linhas subterrâneas são importantes, mas não
são esseciais para essa filosofia: transporte integrador, conectado,
bem distribuído e de circulação frequente. O que falta não é dinheiro
nem tempo. Nem idéias, que podem ser copiadas e adaptadas. Falta a noção
de prioridade e de estratégia de parte da própria sociedade, ainda
presa à idéia de que o importante é ter avenidas duplicadas para usar
seu carro. Mas velhos problemas exigem novas soluções.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-6198268960979242322012-08-30T19:28:00.000-07:002012-08-30T19:28:54.461-07:00Cidades Contemporâneas - O Nó da Mobilidade<i>Considerando que problemas mais sérios - educação, saúde, pobreza - não
são, em essência, urbanos - mas sociais -, não hesito em dizer que o
maior problema urbano atual é a mobilidade. Mesmo para cidades
desenvolvidas e bem planejadas, garantir uma boa mobilidade a residentes
e visitantes é um desafio. Para cidades menos desenvolvidas, a situação
fica próxima do caos.</i><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzcKTD19ECEXiigte0AH3JDyiQ6KslrfZdXhzpPmGp-c4lmcbVhcq-UVvBMyqI7mEcjI_eqzJEZA_8utinxwmHw0MdkaBaVsFvruMp6Zcxi86kITvBOM8zYPsNV7lZFokLxEL2mighTP4/s1600/transito+n%C3%B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzcKTD19ECEXiigte0AH3JDyiQ6KslrfZdXhzpPmGp-c4lmcbVhcq-UVvBMyqI7mEcjI_eqzJEZA_8utinxwmHw0MdkaBaVsFvruMp6Zcxi86kITvBOM8zYPsNV7lZFokLxEL2mighTP4/s1600/transito+n%C3%B3.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A fantástica engenharia de tráfego moderna</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Enquanto algumas cidades</b> pelo mundo têm desenvolvido projetos
inspiradores, a realidade brasileira me parece desesperadora. Algumas
cidades estão estagnadas, outras estão patinando há anos em projetos que
não avançam, outras ainda estão andando para trás, investindo naquelas
soluções que na verdade se transformam em problemas - como o resto do
mundo já descobriu. Não é um privilégio das grandes cidades, com seu
caos típico de áreas metropolitanas: cidades pequenas e médias só têm
seus problemas reduzidos à medida em que as distâncias são menores, mas
as soluções de transporte costumam ser terrivelmente pobres.<br />
<br />
<b>Parece que o transporte</b> <b>é tratado</b> como uma questão meio particular,
cada um que se vire como puder. Independente do que digam, é o que os
governantes municipais demonstram em suas ações e prioridades. Mas não
há dúvida de que essa é uma questão das mais estratégicas na vida de uma
cidade. As condições de transporte e mobilidade podem definir a
degradação ou recuperação de um bairro, a relação da comunidade com os
espaços públicos, o acesso a oportunidades de trabalho, as alternativas
de moradia e, se o interesse do poder público for apenas esse, o
desempenho econômico local, tanto da construção civil como do comércio e
serviços.<br />
<br />
<b>Mobilidade também é uma necessidade</b> social básica. É a
acessibilidade para todos - inclusive para aqueles com necessidades
especiais, mas também para os demais. Pode recuperar comunidades
marginalizadas por exemplo. Além do mais, a possibilidade de as pessoas
circularem pela cidade, acessando serviços e espaços de lazer e
interagindo entre si, multiplica o capital social, principal riqueza
atual.<br />
<br />
<b>Pois bem,</b> se há a necessidade social e potencial interesse
econômico, resta o problema da capacidade do poder público, sempre lento
e muito pouco criativo. Melhor não esperar por ele, até agora não deu
certo. A própria sociedade precisa construir novas soluções para,
depois, impôr ao poder público suas prioridades. Agora, nossa sociedade
tem uma idéia clara do que precisa - ou, ao menos, em que direção ir?
Creio que não.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrVmu7K4PZe6g506G8S4INaSTzOMmN_zC18-l_KA-FIQLbLKg91LS4ZYq-8vG1Du_wp2tx_Z06ZD2MW31TWpqZxIzC5GhvsJyi40rKSBtpelTYScE5RkcCuyuxIV75txQpli6gNqKJ3E8/s1600/n%C3%B3+de+carros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrVmu7K4PZe6g506G8S4INaSTzOMmN_zC18-l_KA-FIQLbLKg91LS4ZYq-8vG1Du_wp2tx_Z06ZD2MW31TWpqZxIzC5GhvsJyi40rKSBtpelTYScE5RkcCuyuxIV75txQpli6gNqKJ3E8/s1600/n%C3%B3+de+carros.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mobilidade baseada em carros: talvez com mais algumas ruas, viadutos...</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>O advento do automóvel</b> gerou um modelo de urbanização e transporte
que caracteriza bem o século 20. Do ponto de vista da mobilidade, o
século 20 pode ser visto como a história da ascensão e apogeu do
automóvel. Não duvido que tenha revolucionado o mundo e a vida das
pessoas. Fantástico. Mas já estamos em outro século. E agora? Pois, se o
automóvel ditou todo o processo de urbanização das grandes cidades no
último século, não chega a ser injusto atribuir-lhe culpa pelos
problemas atuais desse modelo urbano.<br />
<br />
<b>Para começo de conversa,</b> o carro é excludente e limitante. Nem todos
podem ter um. Nem todos querem, ou gostam. E mesmo que todos devessem,
sim, ter e usar um carro, não haveria espaço para todo mundo. A abertura
de avenidas, viadutos, túneis, a ponto de permitir tamanha demanda de
espaço, degrada o espaço urbano e dificulta a circulação, desmotivando
as pessoas a saírem de casa e interagirem em espaços públicos - o que
compromete o próprio funcionamento da cidade e a geração do capital
social.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEjTWZD6BfkcKzCt92jhU8x-VJTDEn_ySYRHb0up-CezkMHVhQpxLe1HhXXG-G0jM8e6zPiXiKso8rBPvhraOPA4xNJ2sEEQK8zazGXZ6mB61JoqpdQEWwZdJPTeNprtCgawp0EIdcTZY/s1600/pedestres.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEjTWZD6BfkcKzCt92jhU8x-VJTDEn_ySYRHb0up-CezkMHVhQpxLe1HhXXG-G0jM8e6zPiXiKso8rBPvhraOPA4xNJ2sEEQK8zazGXZ6mB61JoqpdQEWwZdJPTeNprtCgawp0EIdcTZY/s1600/pedestres.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pedestres são criaturinhas que insistem em atrapalhar o trânsito - alguns pagam com a vida.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Ainda não entendemos a inviabilidade</b> desse modelo. Continuamos
reclamando do excesso de semáforos, da falta de viadutos, dos tais
pedestres que insistem em sair à rua e atrapalhar o trânsito - e ao
mesmo tempo compramos carros maiores, mais rápidos, mais agressivos.
Exigimos mais espaço para estacionar, combustível mais barato, IPI
reduzido - mas reclamamos da degradação do espaço público, da poluição e
do tamanho dos congestionamentos. Seguimos amando o carro e odiando os
efeitos de seu uso.<br />
<br />
<b>Carro é uma invenção genial, mas</b> não foi feito para ser usado o
tempo todo por todos para tudo - e ponto. Então é essencial que haja
alternativas. Pela demanda de espaço típica do automóvel, é essencial
desincentivá-lo para permitir espaço às alternativas. Para não forçar
uma multiplicação do espaço consumido com veículos, tira-se a prioridade
do veículo individual (ou quase individual) para dá-la aos outros. Essa
é uma grande mudança de cultura, já que o automóvel está enraizado no
estilo de vida.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKNJcRHg9PMSc7QHCIoNs33nL_PCCWDbZRqEzs8l1bxs-JLSidKpFg7-UJmFEX5TFPofLjk_fGZHr3NzdD2WEdSQaBVnrIcgagJv-Degx9TTIsdjNGGVC97cu_f2GvZe9HUJL6_OQTAgI/s1600/congestionamento.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKNJcRHg9PMSc7QHCIoNs33nL_PCCWDbZRqEzs8l1bxs-JLSidKpFg7-UJmFEX5TFPofLjk_fGZHr3NzdD2WEdSQaBVnrIcgagJv-Degx9TTIsdjNGGVC97cu_f2GvZe9HUJL6_OQTAgI/s1600/congestionamento.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Carros são um pouco egoístas com relação ao espaço - como fazer para caber todos?</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Entender que é necessário mudar</b> um modelo do século passado (e rever
o papel do principal elemento desse modelo: o automóvel particular)
para criar novas soluções é o primeiro passo. O contrário seria insistir
nas mesmas estratégias, produzindo os mesmos resultados e problemas. Aí
exige-se de cada um desapegar-se de sua idéia de conforto imediato (que
muitas vezes fica só na idéia) para abraçar a possibilidade de soluções
novas, melhores e para todos. Já há soluções em construção e dá para
apostar em sua viabilidade. Mas vou deixar para continuar o assunto na
próxima postagem.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-76884601900837279562012-08-22T18:54:00.001-07:002012-08-22T18:54:55.203-07:00Respeito à Individualidade - Essencial, Natural e Não Faz Mal.<i>Sejamos diretos: você é um reaça. Sim, reacionário, sendo bem francos.
Reaça mesmo. Tem sérias dificuldades em respeitar a opinião e a
liberdade alheias, e acredita sinceramente que não pode haver visão de
mundo melhor do que a sua. Toma por missão impor seu sistema de crenças e
valores, pois no fundo faz questão que todos sigam seu sistema para que
não possa surgir um melhor - o que obrigaria você a reconhecer que suas
crenças e valores não eram assim tão perfeitos.</i><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidy6oSJ9yagp1DwYUOnevC-q6X_vkhg00Ifji-S5SrG902yOvWwgF6l7zB_czNHLuuTB_IVqXng3tka7HAvx_ZChM_DD_IQCWKJjz6WhYi25H4Izbek-C0EWd1kLpFOaJqGWCbIHlpvKs/s1600/autoritarismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidy6oSJ9yagp1DwYUOnevC-q6X_vkhg00Ifji-S5SrG902yOvWwgF6l7zB_czNHLuuTB_IVqXng3tka7HAvx_ZChM_DD_IQCWKJjz6WhYi25H4Izbek-C0EWd1kLpFOaJqGWCbIHlpvKs/s1600/autoritarismo.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Impôr sua vontade aos outros parece divertido, certo? Só para você...</td></tr>
</tbody></table>
<br /><b>Mas não se envergonhe tanto</b> - um pouco sim, mas não tanto. Parece
que você é maioria hoje em dia. Não lhe exime de culpa pelo que você e
os seus fazem com o mundo, mas ao menos divide a culpa entre todos. É
provável que sempre tenham sido maioria, mas muitos permaneciam meio
adormecidos, sem muita vontade de se envolver. Foi quando seres de
espírito livre e entusiastas do livre pensamento começaram a se
articular pelo mundo que essa maioria adormecida acordou assustada.
Fazendo jus a seu rótulo, levantam-se em reação a um sopro de mudança
que recém começava a ganhar força.<br />
<br /><b>Quanto mais se pensa a respeito,</b> mais curioso parece esse
comportamento de querer interferir na vida dos outros, ditar regras,
proibir, obrigar. Há um aspecto religioso inegável aí, senão direto, ao
menos uma herança recente do pensamento típico de nove entre dez
religiões do mundo: a necessidade de promover seu estilo de vida sobre
os outros, como uma obrigação moral de fazer o mundo funcionar como você
acha que deve. Afinal, ao íntegro não se permite conviver com o ímpio.<br />
<br /><b>Mas a religiosidade está em queda,</b> a postura reaça não. Há outros
ingredientes. Intolerância talvez: "O que é diferente não pode ser bom
e, além disso, me ameaça". Ignorância com certeza: "não sei o que é isso
e não quero saber, não entendo e fico com raiva de quem entende". E
possivelmente algo de competição: "a visão do outro não pode ser melhor
que a minha, e seu estilo de vida não pode ser melhor que o meu, então
nem tente, espertinho". Não interessa se o outro não está competindo com
ninguém. Para você reaça, o que importa é o seu ponto de vista. Mas não
se ofenda se eu insinuo que você é ignorante ou intolerante, encare
isso de frente e prove que estou errado.<br />
<br /><b>Claro que você tem direito</b> a seu ponto de vista tanto quanto
qualquer outro, e claro que você pode ter razão em muitas coisas
enquanto outros não têm. O problema é essa sua idéia de que o mundo é
dual, e esse raciocínio linear de que o que não é bom só pode ser ruim, o
que não está certo é errado. A realidade é <i>um pouco</i> mais complexa do
que isso. Não há uma resposta certa em um problema que afete várias
pessoas, já que as pessoas são diferentes e precisam de soluções
diferentes, e uma solução coletiva, para ser válida, deve sofrer um
processo de composição e, sempre que possível, consenso. Ou seja,
ninguém está propriamente certo ou errado.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi97hP4tSs-gbANXr0B32xNqNUk9_MCN-uNbmfKZ3Ccx54Z_ftJonHXoDJRr98CBiJuJH4Hx4ypRjRcSOet2-B9o3GDDlSpYbtv-ggqfGplN9SMXc3M8rzFztHD7iM5edFAz4wXummLqOY/s1600/liberdade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi97hP4tSs-gbANXr0B32xNqNUk9_MCN-uNbmfKZ3Ccx54Z_ftJonHXoDJRr98CBiJuJH4Hx4ypRjRcSOet2-B9o3GDDlSpYbtv-ggqfGplN9SMXc3M8rzFztHD7iM5edFAz4wXummLqOY/s1600/liberdade.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Livres de preconceitos, os indivíduos tendem a alcançar consenso em todos os seus problemas comuns, sem prejuízo de sua individualidade.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br /><b>Não é tão difícil</b> quanto você pensa. Na grande maioria dos problemas
coletivos, as soluções convergem naturalmente para um consenso, uma
solução composta que provavelmente será melhor que as idéias iniciais
que a geraram. Problemas coletivos são essencialmente práticos e as
soluções necessárias são essencialmente técnicas. Não havendo preconceitos e reservas morais, resta equacionar as
diferentes necessidades e preferências envolvidas para que todas sejam
atendidas na mesma medida. E se todos se dedicassem em tempo e energia
para essas questões práticas, muitas delas seriam resolvidas em pouco
tempo.<br />
<br /><b>O caso é que</b> você e os seus não conseguem se ater a questões
práticas. Dispersam sua energia - e a dos outros - envolvendo-se em tudo
aquilo que não lhes diz respeito: o que os outros fazem ou deixam de
fazer, como relacionam-se entre si, o que fazem com seu corpo. Não, você
não é obrigado a concordar com nada que os outros façam, mas talvez
eles também não sejam obrigados a pedir sua concordância. Invadiram seu
espaço de alguma maneira? Isso é um problema. Mas se ninguém invadiu seu
espaço e mesmo assim você mete o bedelho, bem, então você é que está
invadindo. Tão errado quanto, ou talvez pior. Nunca julgue ou condene por antecipação. As
pessoas devem responder por seus atos, não por suas preferências. Não
conclua que um determinado comportamento ou estilo de vida vai levar a
algum tipo de falta ou transgressão, essa relação pode fazer sentido
para você, mas não para os outros. Lembrando: as pessoas são diferentes.<br />
<br /><b>Sabe o mais engraçado?</b> No fundo você gostaria de se relacionar
melhor com as pessoas, com sua comunidade, com o mundo, e poderia fazer
isso facilmente, respeitando cada indivíduo em seu devido espaço e
buscando sempre uma convivência harmônica e construtiva, tanto em idéias
como em ações. Mas prefere oferecer aos outros seu preconceito e sua
intolerância, e aí estraga tudo. Bem, na verdade não é engraçado.<br />
<br /><b>Não sinta-se ofendido</b> ou provocado a uma briga. Sinta-se intimado a
uma reflexão saudável sobre a forma como se relaciona com o mundo e com
as diferenças entre indivíduos. Sua idéia de mundo perfeito é absurda, pois não adianta
ele ser bom só para você. Claro, deve servir <i>também </i>para você, o que
significa que os outros devem respeitar seu espaço e suas preferências.
Mas não espere que lhe dêem o exemplo, faça isso você também.<br clear="all" />
Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-3232302477089012042012-08-14T18:54:00.000-07:002012-08-14T18:54:12.208-07:00O Importante é Competir - Ou Não<i>Certo, em tempos de olimpíada, um artigo oportunista, mas também
oportuno - e vice-versa. E há que se considerar o fenômeno de que tais
questões só são lembradas e discutidas no Brasil a cada quatro anos.
Então, antes que elas simplesmente deixem de existir pelos próximos
tempos, vamos a elas...</i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfnB1FBKe2e8pY_UbTITod0Bi6LyWV9qOomN-_4YFbqIb2BP13stErm9fbz0WR4OizrouSJJEw5MyhoVaPnpkYGPM18WDQQ_IwFz9q6JR-A3aVNHCyp4NyRuUyCk1uN4yohJZycO3b_dQ/s1600/medalha-ouro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfnB1FBKe2e8pY_UbTITod0Bi6LyWV9qOomN-_4YFbqIb2BP13stErm9fbz0WR4OizrouSJJEw5MyhoVaPnpkYGPM18WDQQ_IwFz9q6JR-A3aVNHCyp4NyRuUyCk1uN4yohJZycO3b_dQ/s1600/medalha-ouro.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Medalha olímpica: aparentemente, símbolo e objetivo do bom investimento de um país em esporte.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Não, eu não cobro</b> do Estado mais verbas para o esporte. E não, eu
não me emociono com a história triste de nove em cada dez atletas
brasileiros, que sofrem todas as agruras que a vida pode oferecer para,
embuídos de um patriotismo a Galvão Bueno, levar o nome de nosso país à
glória esportiva. Certo, entendo os valores do esporte e sua importância
cultural para uma sociedade. Entendo o lado positivo de um evento como
as Olimpíadas. E até entendo esse espírito de competição que se
desenvolveu entre os países - só não concordo nem apóio.<br />
<br /><b>Não sei desde quando</b> existe a idéia de um quadro de medalhas,
ranqueando os países entre si por número de medalhas, mas me parece algo
inútil, infeliz e, quando se pensa a respeito, absurdo. Medalhas de
ouro, prata ou bronze são meras convenções para classificar os primeiros
colocados em uma competição, o que não significa que medalhas
conquistadas no futebol, atletismo, levantamento de peso, tiro ao alvo e
esgrima sejam de alguma forma equivalentes e passíveis de uma
contabilidade. É como somar maçãs com bananas. Aliás, na grande maioria
das modalidades - e principalmente naquelas tradicionalmente "olímpicas"
- prevalece o talento e a preparação do indivíduo, e pouco importa onde
esse indivíduo nasceu. Contabilizar uma vitória individual como
simplesmente mais uma medalha no quadro de um país desmerece a conquista
do atleta, e que pertence a ele antes de mais nada.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsyKx5cvFUqYA2oBzTLeOTrF34pbMk44MfgTxzFpUlsWmuDGjZv616Rm3DUzCNn6s-OkcWcwaF0oFnFxiwKi4U0O27KyhOjaTnOeIZzWoUH8XHHrWQIW_LtnMWp52hHidjIlDmECZthfc/s1600/lebre-tartaruga.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsyKx5cvFUqYA2oBzTLeOTrF34pbMk44MfgTxzFpUlsWmuDGjZv616Rm3DUzCNn6s-OkcWcwaF0oFnFxiwKi4U0O27KyhOjaTnOeIZzWoUH8XHHrWQIW_LtnMWp52hHidjIlDmECZthfc/s320/lebre-tartaruga.jpg" width="271" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Competição entre países: alguns no amor e na vontade, outros superequipados e supercondicionados.</td></tr>
</tbody></table>
<b>A nacionalização</b> da competição esportiva pode ser entendida no
interesse dos governos e regimes de fazer autopropaganda e de se
promoverem de forma barata. Afinal, ninguém há de crer que vitórias
esportivas efetivamente melhorem a vida de uma sociedade ou resolvam
problemas estruturais de um país. Mas a estratégia funciona. As pessoas
ficam felizes, se sentem mais patrióticas, realizadas. Mesmo em caso de
derrota, ainda resta como recurso trabalhar o sentimento de esperança no
futuro próximo, de preferência com mais trabalho e empenho para que o
país atinja suas metas: títulos e medalhas.<br />
<br /><b>Daí se explica</b> esse raciocínio do investimento público, não na
prática esportiva ou na sua promoção, mas na competição em si e em seus
resultados - e na sua promoção. Não vejo nenhuma outra forma
justificável de investimento público em esporte que não seja o acesso
direto das pessoas - principalmente jovens e crianças e mais
principalmente aqueles mais excluídos - à infraestrutura necessária para
a prática esportiva. Produzir medalhistas olímpicos pode até promover a
prática do esporte entre a sociedade, mas se não houver efetivo acesso
aos equipamentos necessários, a promoção perde o sentido. Contudo,
quando se fala em investimento público em esporte, se pensa justamente
no contrário, no investimento direto em produção de títulos e
resultados, independente do efeito prático que isso traga para a vida da
sociedade - afinal, uma medalha em tiro de carabina é igual a uma
medalha em natação ou atletismo, o que importa para o país é o número.<br />
<br /><b>Analisando os resultados</b> numéricos, acho curioso imaginar como a
vida das pessoas no Cazaquistão, por exemplo, pode ter melhorado depois
que o país resolveu investir pesado em uma equipe de levantamento de
peso - ou sei lá que modalidade - e ganhou uma boa meia dúzia de
medalhas. E se críassemos, no Brasil, o Jiu-jitsu olímpico, com umas dez
categorias por peso, masculino e feminino? Vinte medalhas de ouro. O
que mais mudaria no país além do patriotismo inflado? Pois bem, e se
investíssemos mais nas modalidades já existentes, cujos membros tanto
reclamam de falta de apoio, com patrocínios, bolsas e o que mais
quiserem, o que mudaria no país? Apenas a idéia de que sim, o governo
investe e cuida do esporte, e está fazendo sua parte.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBI0yqC_hauNIde8ehZ8LAT_PPqOuAqjHUm-pVuAXDVTAWrWeFWaFaOZlqRBApvEQ9XVi8wi2x6JlPNTszI9WXkJxfqBt0qeLzcHjIOA56ScuJSA4p2Rf8hJxOPLcvfbk0t7y73CV90sM/s1600/Ricardo-Teixeira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBI0yqC_hauNIde8ehZ8LAT_PPqOuAqjHUm-pVuAXDVTAWrWeFWaFaOZlqRBApvEQ9XVi8wi2x6JlPNTszI9WXkJxfqBt0qeLzcHjIOA56ScuJSA4p2Rf8hJxOPLcvfbk0t7y73CV90sM/s320/Ricardo-Teixeira.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Os bons resultados no esporte são importantes para muita gente em nossa sociedade.</td></tr>
</tbody></table>
<b>E esse uso institucional</b> do esporte vai exatamente contra a parte
boa do esporte. O esporte de competição nem sequer é saudável - primeiro
valor do esporte -, já que em nome do resultado se sacrificam até as
articulações do corpo. Aliás, boa parte dos grandes patrocinadores
oferece produtos que podem ser tudo, menos saudáveis. E boa parte das
grandes potências olímpicas tem regimes que dificilmente praticam uma
boa inclusão ou justiça social. Mas são altamente favorecidos pela
promoção dos resultados.<br clear="all" />
<br /><b>Pior ainda</b> é não poder falar mal desse assunto - tipo o que estou
fazendo agora, mas eu sou um antipático -, já que pega muito mal ser
contra eventos esportivos, ser contra nossos atletas, tão esforçados e
carentes de apoio. Mais ainda, ser contra nosso país, representado
basicamente por chuteiras, luvas de boxe e afins. Mas se toda essa
institucionalização do esporte vai exatamente contra os valores do
próprio esporte, ser contra isso é ser a favor do esporte, certo? E em
tempos que se critica tanto os gastos públicos em estádios e arenas para
a copa, por que defender o gasto público em medalhistas e resultados?
Para mim, dá no mesmo.<br />
<br /><b>Aliás, quando um atleta</b> "sem apoio" vence representantes de
potências esportivas, injetados de dinheiro e cercados de megaestruturas
de preparação e condicionamento, antes de pensar que esse atleta
vencedor mereceria apoio (seja de Estado, seja de patrocinadores), penso
é que os outros que não deveriam ter. Afinal, esporte pelo esporte, não
pelo resultado.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-39429048519456280752012-07-17T16:43:00.000-07:002012-10-02T12:07:59.471-07:00O Triunfo dos Vagabundos II - O Ócio Feliz e Produtivo<i>No <a href="http://ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/07/o-triunfo-dos-vagabundos-redefinindo-o.html" target="_blank">texto anterior</a>, procurei esculhambar e achincalhar o conceito de
trabalho como valor moral da nossa sociedade. Além de pouco simpático de
minha parte, pode causar uma certa sensação de vazio. As gerações
atuais, mais do que as anteriores, foram preparadas desde cedo para uma
vida de trabalho abnegado e de definição existencial com base em uma
ocupação ou carreira. A perspectiva de não ter que trabalhar - ou de
trabalhar pouco - deixa a maioria das pessoas meio perdida e sem
perspectivas. Alguém já disse que devíamos mesmo ser preparados para o
ócio - e daí surgiriam naturalmente as vocações, idéias e projetos.</i><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy1EG09WISJ-pZVbINF0xx5pl7tbaxxFd-ta-aqZnxqMHkjzad9_aMlR7H7CRvxwX6yMn4DPjDG2qRMG3wRR8BvR5yeOtgre1XYzjgIN-Bu4Qi-L4wnjCkqLmLE-Oxqvh5yJorF_40d50/s1600/A-CIGARRA-E-A-FORMIGA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy1EG09WISJ-pZVbINF0xx5pl7tbaxxFd-ta-aqZnxqMHkjzad9_aMlR7H7CRvxwX6yMn4DPjDG2qRMG3wRR8BvR5yeOtgre1XYzjgIN-Bu4Qi-L4wnjCkqLmLE-Oxqvh5yJorF_40d50/s320/A-CIGARRA-E-A-FORMIGA.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A contribuição da cigarra também conta, pois leva alegria à voluntarioso formiga.</td></tr>
</tbody></table>
<i> </i>
<br />
<b>Um erro grave,</b> mas comum, que se comete quando o valor do trabalho é
relativizado - sempre referindo-se ao conceito mais "tradicional" de
trabalho - é acreditar que todos, se não trabalhassem, se tornariam uns
inúteis, ou começariam a causar problemas. Afinal, mente vazia é
playground do diabo, certo? Isso pode ser um tanto verdade hoje por
causa da cultura atual, mas não é próprio da natureza humana. Talvez o
próprio desajuste que muitos demonstrem quando em ócio seja devido à
sensação inevitável de párias, de menos-que-cidadãos, fruto da cultura
vigente. E a maior prova de que esse tipo de juízo é pura convenção é a
diferença entre as classes de desocupados. Um rico que não trabalha é
admirado e invejado como alguém que sabe viver a vida, mesmo que haja
pouco mérito em sua fortuna - exemplos há de sobra. Já um "pobre" que
não trabalha, pois vive bem com o pouco que tem (e, por esse aspecto,
pode também ser considerado rico), é visto como um parasita social.<br />
<br />
<b>A verdade é que</b> as mais significativas contribuições da sociedade
costumam ser fruto do ócio. Claro que muitas invenções científicas e
avanços tecnológicos devem-se à busca de seus autores por sucesso ou
fortuna, mas as mais significativas dentre essas só poderiam ocorrer com
uma boa dose de ócio. É aí que aflora a criatividade humana, jamais no
stress e nas obrigações do trabalho cotidiano. E a criação que surge da
vocação natural é sempre mais inspirada que aquela que surge da
necessidade. Basta comparar a música de um verdadeiro artista e a música
do artista comercial, feita sob medida para vender.<br />
<br />
<b>Outra verdade é que</b> <b>todo ser humano</b> tem alguma vocação natural ou
interesse genuíno. Não é necessário que seja algo tão essencial para o
resto do mundo. O mundo tem bilhões de pessoas, a contribuição
individual de cada um não precisa ser grande, o importante é que seja
boa - ou seja, feita com boa vontade, talento e desapego. E somadas
tantas diferentes contribuições, há de se encontrar de tudo. Desde que o
ócio não seja visto como um raro momento de fuga de uma rotina
enfadonha - como é hoje para a grande maioria -, o natural é que as
pessoas queiram utilizá-lo para aquelas atividades que elas gostariam
mas que normalmente não encontram tempo de fazer.<br />
<br />
<b>Sempre vi como</b> <b>verdadeiros heróis</b> aquelas pessoas que, mesmo
sujeitas a uma rotina de trabalho diária, encontram disposição em seu
tempo livre para dedicar-se voluntariamente a atividades mais
altruístas, em prol de um mundo melhor ou de uma sociedade mais justa,
cada uma a sua maneira e conforme suas forças. Mas quantas outras
pessoas sentem vontade de fazer algo assim, e certamente têm alguma
habilidade a oferecer, e não encontram energia no pouco tempo livre que
lhes resta? Quantas pessoas se dedicariam a idosos, crianças, pessoas
com necessidades especiais, ou ainda ao meio ambiente, espaços públicos,
atividades culturais, sempre voluntariamente, sem nenhum tipo de
recompensa direta, e se sentiriam realizadas com isso? Aliás, quantas
pessoas se sentem realizadas hoje com seus trabalhos?<br />
<br />
<b>É sempre uma possibilidade</b> que alguns realmente queiram levar toda
uma vida de puro ócio, talvez por falta de vocação, talvez por nunca ter
despertado seus interesses. A esses, resta a questão do bom convívio
social. Se, de alguma forma, representarem efetivamente um fardo para
suas comunidades, serão cobrados por isso e se sentirão pressionados a
ter uma atitude mais colaborativa. Mas, se estiverem em harmonia com a
coletividade, que mal há? E se há bom convívio social, significa que ao
menos nas pequenas ações e atitudes do dia a dia há alguma contribuição.
O valor da contribuição de cada indivíduo para a coletividade só pode
ser medido pela própria coletividade, e isso acontece naturalmente e
segundo as características de cada sociedade.<br />
<br />
<b>Existe ainda aquela contribuição</b> social intangível, impossível de
ser medida, mas que deveria ser altamente valorizada em uma sociedade
moderna, que é a contribuição para o nível geral de felicidade e bem
estar. Isso pode ser feito através da arte, entretenimento, diversão,
atividades culturais, esportivas, enfim, tudo aquilo que possa ser
apreciado individualmente e compartilhado coletivamente.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTygzsCzml8_wMJEOYia9nDBDyJ6HGEjtKXDyhrKyAJzqCi2cG83YOfYpUhBO-m_Bz0BL5caqoD3Q8V1_XKqcluMf_qdzLdzyB96jjPGq3FIp1T-h_9yr1yTRURIkUKCcghWf0LkOMl_A/s1600/notebook-na-cama+peq.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTygzsCzml8_wMJEOYia9nDBDyJ6HGEjtKXDyhrKyAJzqCi2cG83YOfYpUhBO-m_Bz0BL5caqoD3Q8V1_XKqcluMf_qdzLdzyB96jjPGq3FIp1T-h_9yr1yTRURIkUKCcghWf0LkOMl_A/s1600/notebook-na-cama+peq.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pense em tudo que você pode fazer hoje sem sair da cama.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Ou seja, se é verdade</b> que estamos alcançando as condições técnicas
para gerar abundância - e acredito que estamos -, deveríamos também já
estar buscando essa sociedade mais feliz, solidária, produtiva e
criativa. Longe de ser utopia ou devaneio, é uma conclusão lógica quando
consideramos a realidade atual despidos de preconceitos, ou de valores
éticos que já sobreviveram a seu próprio tempo e não fazem mais sentido
prático algum.<br />
<br />
<br />Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-64087685101458828262012-07-10T18:38:00.000-07:002012-07-10T18:38:51.855-07:00O Triunfo dos Vagabundos - Redefinindo o Conceito de Trabalho<i>Há alguns séculos que nossa sociedade ensina com estusiasmo o valor e
a importância social do trabalho. Desde o sujo chão de fábrica da
revolução industrial até o moderno executivo do mundo dos negócios,
geração após geração cultivou a noção do trabalho como algo central para
a existência humana e para o próprio sentido da vida. Por certo que
isso foi de grande valia para a fantástica geração de riqueza e
conhecimento que vemos hoje no mundo. Mas, com toda a mudança
experimentada pela humanidade, produzida com todo esse trabalho, esse
conceito permanece o mesmo? Qual é hoje o significado de Trabalho - e
qual sua real importância para a sociedade?</i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdYEE7yHrgQo3WFhrMoiIHG7qJiCkmd2A2mrl80fx7nRVcY_dh4lDivXVB-l7ZVysYnQWyUUXbJnxhuXIv1eqq2eslKoGLjlmBpmrbGRwPbrzxvQIjDfm2kQFx9d3m4pLCVImHhxEWFjc/s1600/madruga_oscar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdYEE7yHrgQo3WFhrMoiIHG7qJiCkmd2A2mrl80fx7nRVcY_dh4lDivXVB-l7ZVysYnQWyUUXbJnxhuXIv1eqq2eslKoGLjlmBpmrbGRwPbrzxvQIjDfm2kQFx9d3m4pLCVImHhxEWFjc/s1600/madruga_oscar.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Seu Madruga já dizia: o ruim é ter que trabalhar.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Não vou discorrer novamente</b> sobre a tecnologia moderna e tudo o que
ela pode nos proporcionar. Sou repetitivo mas não tanto. Mas fique claro
o que acredito sobre a tecnologia: possuímos hoje <u>todas as condições
físicas e técnicas</u> de automatizar quase tudo, com certeza os processos
industriais e logísticos e provavelmente quase todos os procedimentos
administrativos e burocráticos dos serviços públicos. Aliás, temos
condições até de automatizar o próprio processo de automação - pode ser
uma frase mal construída, mas é verdade. Sistemas que gerenciam
sistemas, robôs que fabricam robôs, tudo isso já existe, e funciona.<br />
<br />
<b>A automação é uma questão central</b> para o desenvolvimento econômico e
social. Os ganhos de eficiência e qualidade tão necessários a uma
sociedade sofisticada passam necessariamente pela redução da intervenção
humana nos processos administrativos e produtivos. Sim, o ser humano é
falho, limitado, sujeito a cansaço, frustrações, emoções, tudo isso nos
torna mais interessantes e combater essas características nos tornaria
menos humanos. Mas preferimos não ter falhas e defeitos em nossos
produtos e serviços, certo? A automação pode resolver esse problema - se
não totalmente hoje, é só questão de tempo.<br />
<br />
<b>Claro que alguns serviços</b> importantes, como aqueles relacionados à
saúde ou assistência, ainda precisarão da ação humana, mas mesmo nesses
casos a tecnologia disponível reduz sensivelmente a necessidade de mão
de obra - e melhora sensivelmente o resultado final. Se hoje não temos
uma maior automação em nossos serviços, é porque combatemos o avanço da
tecnologia sobre nossos empregos. Para que? Para não ficarmos
desempregados. Mas para que precisamos estar empregados então?<br />
<br />
<b>Nossa sociedade</b> se constituiu a partir do valor central do trabalho,
e pensamos e organizamos nossas vidas em torno de nossos trabalhos, a
ponto de não ser considerado um sujeito completo aquele que não trabalha
- no conceito mais tradicional do termo. Mas a realidade em que esse
valor se criou já não existe mais, na verdade praticamente se inverteu: a
mão de obra humana não apenas é incapaz de trazer grande contribuição
mas também prejudica o avanço tecnológico disponível. Considerada a
necessidade de abrir espaço para a automação, para dar maior qualidade a
produtos e serviços, pode-se quase dizer que abster-se de trabalhar já é
em si uma contribuição à sociedade.<br />
<br />
<b>Sendo o trabalho humano</b> desnecessário na prática, não faz sentido
mantê-lo artificialmente apenas para dar sentido à existência - afinal,
não há um sentido para ser dado. Claro que há muitos outros conceitos de
trabalho, que podem ser usados e são muito mais significativos para o
mundo atual do que o conceito tradicional. Um voluntário que ajuda
doentes ou crianças carentes, um ativista ambiental ou simplesmente o
cidadão comum que se mobiliza por causas coletivas fazem muito mais pelo
mundo do que um trabalhador assalariado típico. A grande diferença está
na motivação - e na necessidade.<br />
<br />
<b>Mas nem é o caso</b> de questionar quantos se dedicariam a alguma
causa ou finalidade que fizesse jus a sua existência. Apesar de que
suspeita-se de que sim, muitas e muitas pessoas se dedicariam às mais
nobres necessidades humanas por simples vocação pessoal. Voluntariado,
como o nome sugere, deve ser algo expontâneo de cada um, a ser feito
como e quando se aprouver, e também não teria sentido de outra forma.
Então também não é isso que substitui a razão da existência.<br />
<br />
<b>A razão da existência</b> seria provavelmente a simples existência em
si, de preferência em harmonia e coexistência com seu meio e seus
semelhantes, cada um cuidando de seu habitat e de sua comunidade, mas
também de si mesmo e do seu próprio espírito. Tendo a automação para
fazer por nós tudo aquilo que não nos agrada fazer expontaneamente,
teríamos tempo de sobra para todo tipo de ação voluntária ou social, mas
também para nos dedicar a tudo aquilo que nos agrada e dá graça à
existência. Teríamos uma sociedade de músicos, artistas, escritores,
boêmios, esportistas, pessoas criativas e felizes produzindo coisas
bonitas e divertindo-se uns com os outros. Seria muito <i>espírito de porco</i>
preferir o trabalho a isso, mesmo sabendo esse trabalho não ser lá
muito necessário.<br />
<br />
<b>Ainda hoje,</b> vemos certo preconceito em relação a pessoas que não têm um
emprego ou empreendimento com fins econômicos. Há termos pejorativos
para quem vive com pouco e trabalha pouco, e pouca admiração por aqueles
que se dedicam a causas altruístas. Mas o pior ainda é reservado para
aqueles que dedicam-se a curtir a vida, viver bem e fazer o que gostam: <i>vagabundos</i>.
Não é inveja, é o valor ultrapassado do trabalho como finalidade da
vida, tão enraizado que está. Pois então para que trabalhamos esses
últimos séculos senão para gerar as condições sociais e econômicas que
permitem nos dedicarmos aos prazeres da vida e celebrarmos a existência
humana? Essas condições estão sendo rapidamente alcançadas, então
podemos começar também a mudar nossos valores.<br />
<br />
<b>O espírito humano</b> realmente livre - livre de valores ultrapassados e
convenções sociais - é o mais criativo de todos, capaz de criar
maravilhas e genialidades. Em uma sociedade de espíritos livres, podemos
esperar grande riqueza cultural, artística e científica, mas também uma
grande melhora no convívio social, na saúde mental e na realização
pessoal. E, provavelmente, um aumento significativo no trabalho
voluntário e no envolvimento em causas comuns - o que realmente muda o
mundo para melhor hoje -, mas isso ainda não será o objetivo da vida, e sim uma consequência de uma sociedade mais saudável.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6PdiPgptALI73bQrvQ2ESktINut8JS40tZDYIuw2v7mKK66OCJytklkuRFp_jqh6oS-q7xzLAr9jrXNZdcgsY3C9xZdt2UNfu3snjf05ijILUW9WeKKHfjqL-I8JcIfmK8i_8N_LxnT8/s1600/A-CIGARRA-E-A-FORMIGA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6PdiPgptALI73bQrvQ2ESktINut8JS40tZDYIuw2v7mKK66OCJytklkuRFp_jqh6oS-q7xzLAr9jrXNZdcgsY3C9xZdt2UNfu3snjf05ijILUW9WeKKHfjqL-I8JcIfmK8i_8N_LxnT8/s320/A-CIGARRA-E-A-FORMIGA.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Se houvesse comida e abrigo para todos, certamente que a formiga se uniria à cigarra, para juntas celebrarem a alegria de viver</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Até aqui,</b> esqueci propositalmente a questão financeira. Claro, ainda
que se concorde com tudo acima, resta a questão do sustento, da
sobrevivência em uma sociedade voltada para o capital. Pois bem, essa é a
questão que fica: a grande maioria trabalha hoje uma vida toda em
empregos desagradáveis, de pouca contribuição social e ainda menos
satisfação pessoal, não por valor ou virtude, mas por imposição de
mercado, por uma convenção do sistema vigente. Entender isso já é um
ótimo primeiro passo para começar a buscar a sociedade que gostaríamos
de ter, e não a que achamos que precisa ser.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-58568456928918710532012-06-28T05:25:00.000-07:002012-06-28T05:35:02.891-07:00Tempo de Semear: O Exemplo dos Pequenos<br />
<div class="MsoNormal">
<i>Recentemente, vimos as grandes burocracias do
mundo
reunirem-se na Rio+20 e baterem suas cabeças por dias para produzir um
inócuo
documento que já nasce com 20 anos de atraso. E isso em uma época em que
multiplicam-se os exemplos de ações espontâneas de pequenos grupos no
mundo todo que, dentro das
possibilidade de cada grupo ou comunidade, contribuem para melhorias
efetivas
nas condições sócio-ambientais dessas comunidades. O que as grandes
burocracias
mundiais não conseguem sequer colocar no papel, pequenos grupos
auto-organizados vêm praticando com cada vez mais desenvoltura. O
paradigma das organizações é que os grandes já não podem competir com os
pequenos.</i></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWVcmztkernqm4B3Q8ZTvFOZcXRaNK0Ol-TxqWZOS2RJIqSQSQPT-fF78dXk4mhrFzYNSCV9grz_JpozGU0dv2roXQ5EAskC124cdQnGm5w_FHtih0eoDA09uGk1uS82kuEh44Xbl_Hm0/s1600/semear_mundo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWVcmztkernqm4B3Q8ZTvFOZcXRaNK0Ol-TxqWZOS2RJIqSQSQPT-fF78dXk4mhrFzYNSCV9grz_JpozGU0dv2roXQ5EAskC124cdQnGm5w_FHtih0eoDA09uGk1uS82kuEh44Xbl_Hm0/s320/semear_mundo.jpg" width="220" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Outro exemplo</b> bem recente e significativo vem da Europa,
mais especificamente da Grécia em crise. Com sua economia nacional afundada e o
cenário político descendo no vácuo, a Grécia não encontra em seus órgãos
estatais, partidos ou corporações qualquer resposta útil para sair de sua
sinuca. Ao mesmo tempo, surgem do interior de sua sociedade exemplos de pura
criatividade e inteligência colaborativa. Como no caso da cidade de Volos, <a href="http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120416_grecia_cidade_dg.shtml" target="_blank">que instituiu uma moeda própria para reativar a economia local</a> independente do Euro<wbr></wbr>; ou o caso dos pequenos produtores rurais, que <a href="http://pt.euronews.com/2012/03/19/agricultores-do-peloponeso-combatem-a-crise/" target="_blank">começaram a organizar-se em redes com seus consumidores</a>, eliminando a intermediação e
custos logísticos, reduzindo sensivelmente o valor final dos produtos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Grandes instituições</b> encontram-se emaranhadas em normas,
regulamentos, políticas, as linhas de comunicação são restritas e os interesses
são difusos. A burocracia intrínseca a uma instituição não é tão nociva a seu
funcionamento quanto a degradação de seus interesses. À medida em que se institucionaliza,
ela se distancia de seus objetivos mais diretos em favor de objetivos
políticos, que são essencialmente desvios de finalidade em qualquer problema
concreto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>É exatamente o caso</b> da diplomacia internacional,
seja na Rio+20 ou na ONU. Há muitos interesses a serem resguardados, outros que não
devem ser melindrados, e uma simples carta de intenções ou coisa que o
valha acaba sendo um exercício de palavras vazias. Bastante efetivo,
não? Tendemos a criticar o Estado como a típica organização burocrática e
ineficiente, mas grandes organizações em geral são assim quando tratam
de interesses mais coletivos, de retorno difuso.</div>
<br />
<b>Já os pequenos grupos,</b> geralmente horizontais e auto-organizados,
são o que há de melhor em termos de organização ágil e efetiva.
Utilizando-se das ferramentas de mídia e do amplo acesso a informação e
conhecimento, rapidamente identificam problemas, necessidades, possíveis
soluções e estratégias. Identificado o interesse comum, reúnem os
recursos possíveis - essencialmente humanos, além do conhecimento
aplicado e da energia colaborativa - e arregaçam as mangas. De um dia
para o outro se realiza uma intervenção urbana, uma ação de recuperação
ambiental ou um projeto de economia solidária. Ações reais, de
resultados concretos, tão próximas quanto possível da realidade e das
necessidades de cada local.<br />
<br />
<b>Em termos globais,</b> cada ação local é quase nula, sim. Um mutirão de
limpeza em uma praça não torna o mundo mais limpo. Um projeto de
economia solidária em uma comunidade isolada não torna o mundo menos
pobre. É o grão de areia no deserto, a gota d'água no incêndio. Mas as
pequenas ações não valem por seu resultado imediato. Elas valem pelo
poder de seu exemplo. E isso tem valor inestimável na sociedade atual,
carente de bons exemplos, respostas, soluções concretas. Cada ação que
se realiza semeia uma idéia, um valor, atitudes, demonstra às pessoas a
capacidade que está nelas mesmas para tomar iniciativas e resolver
problemas, prova que é possível não depender das burocracias globais
para resolver as questões sociais e que a viabilidade de ações
auto-organizadas vem do grau de adesão e comprometimento dos indivíduos.<br />
<br />
<b>Semear é algo poderoso.</b> Considerando as facilidades contemporâneas
de comunicação e interação social, o potencial de multiplicação é
incalculável. As redes sociais não podem mudar o mundo, mas as ações que
se realizam e se disseminam através delas podem, e já estão fazendo
isso. Limpar uma praça ou o mundo todo é apenas uma questão de escala,
de quantos indivíduos se envolvem na solução do problema.
Multiplicando-se, grãos de areia se transformam em tempestade e gotas
d'água se transformam em enxurrada. Palavras ao vento jamais
atravessarão o jogo de cena da política global, mas os grãos de areia
das pequenas ações percorrem o mundo e semeiam idéias que seguem se
multiplicando - até mudarem o mundo.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-47064738396513497882012-06-19T06:47:00.000-07:002012-06-19T06:47:50.316-07:00O Eleitor como Mercado e O Voto como Produto<i>As eleições desse ano têm tudo para ser um espetáculo. Por
espetáculo, não entende-se necessariamente algo bom ou bonito. Talvez
algo pensado para encher os olhos e, com algum esforço promocional,
alguns corações. Nada que contribua para alguma melhora na política
nacional ou na administração pública. Apenas a coroação da longa
preparação dos marqueteiros profissionais para fazer exatamente aquilo
que sabem: transformar a "festa da democracia" em uma mera ação de
propaganda e marketing.</i><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga09fLftCWSwZtIRebGfZVK_55Mly0FmM3d71QIaHvok-mEM5G55GO2BxsPnCw5Z1youvSrMHb0geqoKl7MKPacS2T1oNBjwqr6bL01k2xuu7-epk_Xlsq2SpeTb67a_zD6xnpkUWAqgg/s1600/cod_barras.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="217" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga09fLftCWSwZtIRebGfZVK_55Mly0FmM3d71QIaHvok-mEM5G55GO2BxsPnCw5Z1youvSrMHb0geqoKl7MKPacS2T1oNBjwqr6bL01k2xuu7-epk_Xlsq2SpeTb67a_zD6xnpkUWAqgg/s320/cod_barras.jpg" width="320" /></a></div>
<br /><b>Não é de hoje</b> que se empregam marqueteiros em campanhas eleitorais,
aliás essa prática até já encheu. Mas virou uma ciência, e os candidatos
parecem mais encantados do que nunca com ela. O negócio é segmentar o
mercado - digo, o eleitor - e investir de forma proporcional ao peso de
cada segmento, tentando estabelecer empatia com cada um. Em outras
palavras, dizer o que cada um gosta de ouvir e prometer o que cada um
gostaria de ter. E quando a gente acha que todo mundo já está tapado de
nojo com a política e nem aguenta mais nada, eis que o povo nos
surpreende e cai em toda essa conversa. Porque estão acostumados a ser
tratados como segmento de mercado, e gostam disso sem nem saber.<br />
<br />
<b>A segmentação é livre.</b> Vale gênero, faixa etária, etnia, religião,
profissão - até mesmo a causa social de sua preferência, algo que
deveria ser nobre demais para ser alvo de marketing eleitoral. Mas é
tudo questão de criatividade. E é fácil. Um candidato que já está no
poder, por exemplo, precisa de apenas dois neurônios para criar uma
"Secretaria do Idoso", um "Gabinete de Políticas para o Jovem", a
"Secretaria da Mulher" e por aí afora (e o candidato de oposição diz que
ainda vai fazer muito mais: O "Escritório da Acessibilidade" e o
"Gabinete da Bicicleta"). Não que algum desses grupos sociais tenha
problemas que sejam resolvidos pela criação de burocracias estatais.
Talvez alguns deles sequer tenham problemas que percebam como
especificamente seus. Mas gera empatia, tipo, a sensação de que se
lembram da gente e que se importam - pelo menos o suficiente para criar
mais alguns cargos e tirar umas fotos.<br />
<br />
<b>Claro que os problemas</b> que um governante eleito deveria tratar,
prioritariamente, são aqueles que dizem respeito à coletividade e afetam
a todos. Mas esses são mais difíceis e não geram empatia. Já grupos bem
segmentados podem ser atendidos com marketing direcionado. Crie o "Dia
do Profissional disso" ou o "Dia em Defesa daquilo", sai barato e não é
nada difícil. Nada efetivo também, mas enfim, o que esperar de uma ação
de marketing?<br />
<br />
<b>Na verdade, essa segmentação</b> do mercado, digo, eleitorado, e das
políticas públicas é algo de efeito hediondo, se gasta dinheiro, se
rotula as pessoas em grupos sociais cada vez mais apartados, que vão
competir entre si pelo dinheiro que se gasta e depois ainda se gasta
mais dinheiro para fazer todo o marketing em cima do dinheiro que se
gastou. E o produto final é a falta de recursos para tratar os reais
problemas, e uma sociedade politicamente fragmentada, incapaz de
analisar o quadro geral das coisas e de priorizar os interesses maiores
acima dos menores.<br />
<br />
<b>Ora, uma sociedade</b> - instrumentalizada por seu respectivo Estado -
que seja capaz de priorizar e resolver os problemas mais essenciais,
aqueles que acabam gerando os demais, produzirá em médio prazo melhorias
e benefícios para todos os grupos sociais, sem precisar segmentá-los -
talvez, até pelo contrário, aproximando-os em torno de objetivos comuns.
Mas isso não é marketing, é administração pública de verdade, e o
sistema político-partidário não é administração pública de verdade, é
marketing.<br />
<br />
<b>Uma campanha eleitoral</b> não deixa dúvidas de que marketing é o
verdadeiro negócio e vocação dos políticos profissionais, e enquanto é
mais fácil, barato e efetivo produzir esse marketing do que tratar
problemas de verdade, é apenas nisso que essas pessoas concentram seu
tempo e energia. Por incrível que pareça, ainda funciona. Já existe até a
consciência da ineficiência do Estado e sua incapacidade, até falta de
vontade, de tratar os grandes problemas. Mas o marketing ainda funciona.
Por que? Porque gostamos de ser segmentados e rotulados, tratados como
mercado, ouvir o que gostamos e sentirmo-nos lembrados. Gera empatia.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-43133299945090991092012-06-13T05:44:00.000-07:002012-06-13T05:44:06.254-07:00O Negócio é Proibir<i>Recentemente, ganhou algum destaque a discussão sobre
descriminalização, sobretudo do consumo de drogas. Enquanto para alguns o
avanço (de um ponto de vista progressista) parece tímido demais para
maiores debates, para muitos parece ainda uma questão especialmente
polêmica essa de não criminalizar indivíduos por certos hábitos de
consumo - não por possíveis consequências desse consumo ou algum
prejuízo a terceiros, mas o mero consumo por si só. E me impressiona o
aparente tamanho dessa parcela da população pró-criminalização. Em bom
português, a favor da repressão, da proibição, do cerseamento da
individualidade.</i><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0xhcAxA7hmEGy3YrqD5TTobZ4MAytDFqlJpq-sE8WE2JonF-F9FdtXOA4ljxe0RqqjJNb1eRWiFRx7LUvYkhD7renndMUD4UADILUqjAad1I9dCdYWL8zHLxbSFEBZhRB0hQsB3rfF6M/s1600/bird_forbitten.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0xhcAxA7hmEGy3YrqD5TTobZ4MAytDFqlJpq-sE8WE2JonF-F9FdtXOA4ljxe0RqqjJNb1eRWiFRx7LUvYkhD7renndMUD4UADILUqjAad1I9dCdYWL8zHLxbSFEBZhRB0hQsB3rfF6M/s320/bird_forbitten.jpg" width="240" /></a></div>
<br />
<b>É certo que alguns hábitos</b> individuais podem provocar ações
prejudiciais a terceiros, sobretudo se alteram a consciência e o
auto-controle. Se o indivíduo não sabe manter para si os efeitos de seus
atos, deixa de ser uma questão individual para se tornar coletiva, e
passível das devidas sanções sempre que causar danos a terceiros ou à
coletividade. Até aí nenhuma dúvida. O interessante é centrar toda
preocupação na questão individual e antecipar a condenação ao indivíduo
por atos que ele poderia ter praticado, mesmo que, na verdade, não o
tenha.<br />
<br /><b>É uma prática discriminatória,</b> pois os mais diversos hábitos e
comportamentos são, de alguma forma, potencialmente ofensivos. Quem é
mais perigoso, o motorista altamente estressado ou o consumidor moderado
de álcool? A pessoa que é violenta ou a que usa maconha? O que deve ser
proibido ou não são essencialmente convenções. Por regra, proíbe-se o
que foge ao <i>status quo</i> e isso <u>independe </u>do potencial ofensivo das
eventuais consequências.<br />
<br /><b>Sendo, portanto, todos</b> e cada um de nós passíveis de condenações e
restrições, independente da individualidade de nossos atos, é
interessante que a prática da proibição e da criminalização seduza uma
maioria tão considerável. É uma prática extremamente ineficiente, em
qualquer sentido, e isso precisa ser compreendido antes de mais nada.
Cada um acaba por fazer o que quer, proibido ou não. Pegando o gancho do
assunto em voga, consumo de drogas, quem quer consumir consome - a
diferença é que em vez de adquirir no comércio adquire com o crime. E
quem quer vender vende - mas em vez de tornar-se um comerciante torna-se
um criminoso. A proibição <u>não coíbe a prática</u>, apenas a criminaliza.<br />
<br /><b>Ainda nesse exemplo,</b> é fantástico o volume de recursos empregados na
repressão ao tráfico, humanos, financeiros e materiais. Sem falar na
manutenção dos presídios e casas correcionais, superlotados
principalmente graças à criminalização das drogas. Sendo o Estado um só,
esses mesmos recursos deixam de ir para educação, saúde e inclusão
social. Áreas que poderiam gerar algum resultado em longo prazo, ao
contrário da ação policial, que enxuga o gelo. É mais econômico,
eficiente e sustentável tratar a dependência como problema de saúde,
tratando o tráfico como qualquer outro comércio, passível de alguma
regulação e fiscalização quanto a abusos.<br />
<br /><b>A criminalização das coisas gera emprego e renda,</b> essa é a verdade.
Muitos são os negócios que se criam e prosperam na chamada guerra às
drogas. Como o consumo, de qualquer forma, acontece, e o gasto do Estado
também, o dinheiro rola - muitas vezes em mãos pelas quais, de outra
forma, não rolaria. Todo um conjunto de interesses se levanta a favor da
manutenção da proibição e da repressão, e não são interesses limpos.<br />
<br /><b>Contudo, esses interesses</b> só se sustentam em toda a ineficiência que
impõem à sociedade porque encontram suporte nessa mesma sociedade. A
fonte desse mal é a curiosa tendência do ser humano em julgar o
próximo, para depois reprovar e finalmente recriminar. A aceitação a
restrições de liberdade parece ter duas explicações: a vaga noção de que
quem é diferente é errado, e potencialmente perigoso ao estilo de vida
"correto"; e a idéia de que essas restrições pesarão mais para os
outros, pois estão errados, e são necessárias para proteger os
"corretos". Mais curioso ainda é observar que essas restrições
comprometem todos os estilos de vida, direta ou indiretamente.<br />
<br /><b>É uma história velha e mofada,</b> mas pelo jeito ainda atual. E,
verdade seja dita, é a trilha do fascismo. Cada passo na direção da
proibição e da repressão de Estado é um passo na direção de um Estado e
de uma sociedade fascistas. Não é necessário dar muitos passos nesse
caminho, cada passo já é ruim. E o sentido oposto não parece mal. Seria a
coexistência, a aceitação das diferenças, a concentração de esforços e
recursos na real solução ou tratamento dos problemas sociais - e sim,
eventualmente na criminalização e combate daquilo que for realmente
ofensivo.<br />
<br />
<b>A prática da coexistência</b> requer partilha de espaço e de liberdade entre
os diferentes indivíduos, geralmente restando menos espaço para cada um
do que se gostaria, já que são muitos e muito diferentes esses
indivíduos. Mas a aceitação de soluções repressivas também acaba
restringindo esse espaço, não por redistribuí-lo mas por eliminá-lo.
Péssima solução. Pior ainda por gerar um círculo vicioso: quanto mais as
pessoas são perseguidas ou reprimidas, mais violentamente elas
respondem à sociedade, dando mais motivo para a causa da repressão.<br />
<br />
<b>Por fim, às opiniões mais ferozes,</b> fique claro que não se trata, aqui,
de <i>"defender bandido"</i>, mas de preservar o espaço e liberdade do outro na
mesma medida que eu espero que se preserve o meu, e de não se ter tanta
pressa em recriminar e perseguir qualquer coisa, guardando essa energia
e recurso para os verdadeiros bandidos - e, principalmente, para reais
soluções aos verdadeiros problemas sociais.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-22871577863445944592012-05-30T15:45:00.000-07:002012-05-30T15:45:51.537-07:00Engenharia de Tráfego Moderna: um case de caos urbano<i>Moro em Porto Alegre, uma cidadezinha no remoto sul do Brasil. Apesar
de pequenina e provinciana, Porto Alegre tem a infelicidade de suportar
sobre sua superfície 1,5 milhão de criaturinhas humanas, sendo que toda
a área metropolitana apresenta aproximadamente o dobro desse singelo
número. Aproximadamente mesmo, quase se esbarrando um no outro. É
bastante gente se mexendo e fazendo barulho para todo lado. Uma
verdadeira maravilha do Brasil moderno.</i><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9n-A2IsbePstC9sivm-iMpBledSwdFi7g2AgtVMMJkzWqKJzkJfucV2MPbJrLfUCwLG-S4cm2hAMRoajiDf0lduKY-sdIBRThRGgfIUGv4BBDChHVEcIBn7BAAZY_KOFLYAQLp-xEpsE/s1600/sinaleirao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9n-A2IsbePstC9sivm-iMpBledSwdFi7g2AgtVMMJkzWqKJzkJfucV2MPbJrLfUCwLG-S4cm2hAMRoajiDf0lduKY-sdIBRThRGgfIUGv4BBDChHVEcIBn7BAAZY_KOFLYAQLp-xEpsE/s320/sinaleirao.jpg" width="283" /></a></div>
<br />
<br />
<b>Em minha cidade,</b> não reclamamos muito de falta de metrô, <i>tramway</i>,
Brt... Afinal, somos brasileiros, e isso é tudo coisa de europeu fresco.
Para nós, transporte público é coisa de pobre, é o <b>bumba</b>, chacoalhando o
povo por duas horas entre o centro e o bairro. Agora, experimenta botar
semáforo na rua para ver se não viramos feras dentro de nossos carros. E
nem adianta, pois nossa cidadezinha não paga imposto para botar
semáforo - aqui chamamos de sinaleira, que é mais pitoresco. Tem
sinaleira embaixo de viaduto, em volta de rotatória, a cada dez metros
em vias expressas, enfim, nossa criatividade permite colocarmos
sinaleira em quase qualquer lugar. E nosso gênio ruim faz com que
amaldiçoemos as mães de todos aqueles que as colocaram.<br />
<br />
<b>Pois bem.</b> Atualmente, uma mega ação de intervenção
urbana da prefeitura espalha semáforos em torno das principais
rotatórias da cidade. Antes de mais nada, registre-se minha opinião
técnica e bem balizada sobre o assunto: rotatórias com semáforos em
volta parecem um forte sinal de que algo vai meio mal na engenharia de
tráfego. Tipo, tecnicamente falando, uma verdadeira <i>bicheira </i>de
engenharia de tráfego. Mas, sabe o pior? Era necessário.<br />
<br />
<b>Nessa pacata cidade,</b> vale a lei do mais forte. Aqui, entenda-se que a
massa de um carro multiplicada por sua velocidade lhe confere energia
cinética. Quem detém a maior energia cinética tem a preferência em uma
rotatória. E pode ser bem difícil decidir isso no calor do momento, cada
um correndo para chegar mais rápido ao próximo congestionamento. Nossas
rotatórias são um desafio à boa convivência de nossos calmos e bem
equilibrados motoristas. E pior ainda para os pedestres e ciclistas -
sim, pois, pasmem os habitantes de outras realidades, essas calamidades
do trânsito costumam ficar em áreas de grande circulação de pedestres.
Atravessar uma rotatória é arriscar a vida, já que pedestres e ciclistas
têm uma energia cinética que nem merece respeito.<br />
<br />
<b>Foi necessário,</b> e bem feito. Bem feito para os muitos motoristas que
abusam de sua energia cinética nesses locais, e não demonstram quase
nenhum respeito pela pele dos mais indefesos. Aproveitem a parada em
frente aos semáforos para refletir sobre a vida.<br />
<br />
<b>Essa singela parábola</b> do motorista portoalegrense, que desrespeita o
pedestre e depois esmurra o volante quando tem que parar em um
semáforo, representa bem a problemática de muitas das questões urbanas
modernas: ação e reação, yin e yang, o que vai volta, e o que você faz é
o que você recebe. Jogue lixo nos bueiros e sofra com os alagamentos;
desrespeite as regras de convivência no trânsito e sofra com o trânsito
precário; apóie o fechamento de bares e atrações de lazer em nome de seu
sossego, depois sofra com a falta de opções de lazer na cidade.<br />
<br />
<b>Uma cidade</b> é mesmo recheada de criaturinhas humanas dos mais
diversos naipes e gênios - quase todos ruins. Aliás, não o fosse, não
mereceria o nome de cidade. No máximo, vilarejo. Na verdade, essa
diversidade é o que gera riqueza cultural e desenvolvimento humano a uma
cidade - diferentes idéias, visões de mundo, experiências de vida, tudo
convivendo junto em um único espaço e tal... Mas se houver a tal
convivência. Na sociedade de consumo, aprendemos a valorizar nosso
espaço, nossa casa, nosso carro, nosso ar, nosso silêncio... Mas em uma
cidade grande os espaços não são tão individualizados assim. Nem tem
como ser. Milhões de criaturinhas inquietas e barulhentas? Mude-se para o
campo ou para a praia - uma das bem pequenas.<br />
<br />
<b>E pela própria lei</b> de ação e reação, quanto mais se tenta fechar o
espaço de uma tribo urbana, geralmente daquelas mais chatas e
barulhentas, mais ela reage incomodando e fazendo barulho. Quanto mais
os carros tomam espaço da cidade, mais os demais grupos tendem a invadir
esse espaço. E quanto maior o confronto entre diferentes grupos de
interesses, maior a regulação e restrição para todos.<br />
<br />
<b>Uma cidade grande</b> deveria ser capaz de acomodar a todos os grupos se
preservado o interesse comum. Uma boa rede de transporte público
atendendo à grande maioria libera espaço suficiente para todos os
demais, sejam motoristas, pedestres ou ciclistas. Uma boa quantidade de
espaços de convívio e lazer permite opções a todas as tribos, sem
disputa por espaço ou invasão das áreas de sossego. E assim vai, essa é a
idéia. Mas tudo isso demanda que se pense no bem comum antes do
particular. Yin e yang, o que vai volta. Aquilo que você faz é o que
você recebe.<br />
<br />
<b>A engenharia de tráfego moderna</b> é um ótimo exemplo do quanto é
inviável tratar nossa falta de capacidade de convivência <i>na marra</i>.
Enquanto cada um se preocupa com seu próprio espaço, tape-se a cidade
com semáforos, viadutos, quebra-molas, barreiras, e assim fica ruim para
todo mundo e não fica bom para ninguém. Não deixa de ser democrático.
Claro que seria melhor enfrentar nosso gênio ruim e desenvolver o
respeito mútuo e a prática da coexistência. Mas somos mesmo
criaturinhas muito barulhentas.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-78143454705416930802012-05-28T13:50:00.000-07:002012-05-28T13:50:12.955-07:00Uma Economia Baseada em Recursos: Um Estudo da Vida Real de Culturas Isoladas (tradução PT-BR)<i>Traduzido por mim, com a maior fidelidade possível, a partir do
original em inglês <a href="http://blog.thezeitgeistmovement.com/blog/mikael-wafin/resource-based-economy-real-life-study-isolated-cultures" target="_blank">"A resource-based economy: A real life study of isolated cultures"</a>, publicado em 17 de março de 2012 por Mikael Wafin<a href="http://blog.thezeitgeistmovement.com/blog/mikael-wafin/resource-based-economy-real-life-study-isolated-cultures" target="_blank"></a> (se você, assim como eu, não confia em tradutores como eu, chega lá!).</i><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixmu7VyyLLR6dbwPpTG1ypqMAQQpJhNrsV-Llt-Gbs8n6yEpiwY9k31-GKuMakPedvXvXt9M9xc8yQE7xMluykO3IvtuJICDR4RK4KGOCJsMyGG-4AVa7PL9dfdYFQMNNUP2L7KLnFnfQ/s1600/Moai_Rano_raraku.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixmu7VyyLLR6dbwPpTG1ypqMAQQpJhNrsV-Llt-Gbs8n6yEpiwY9k31-GKuMakPedvXvXt9M9xc8yQE7xMluykO3IvtuJICDR4RK4KGOCJsMyGG-4AVa7PL9dfdYFQMNNUP2L7KLnFnfQ/s320/Moai_Rano_raraku.jpg" width="240" /></a></div>
<br />
<br />
"Eu estava assistindo a um documentário da BBC sobre o
Pacífico Sul, no qual são mostradas diferentes ilhas isoladas nesse
oceano e como elas tem sobrevivido com pouco ou nenhum contato com o
mundo moderno. O programa apresentou a fascinante Ilha da Páscoa com
suas famosas estátuas de pedra chamadas Moai."<br />
<br />
"A Ilha da Páscoa era florescente em seus primeiros anos de
colonização humana com largas florestas e grandes colônias de aves. Mas
com o excessivo corte de árvores e caça de aves, muito da floresta
frondosa e todos os pássaros nativos vieram à extinção. O corte
excessivo da floresta foi forçado principalmente pela competição entre
as tribos nativas quanto a qual delas iria criar a maior estátua de
pedra, já que eles precisavam das árvores para transportar as estátuas
pela ilha. Essa ignorância do conceito de conservar os recursos
existentes resultou em um grave declínio da população e teve um impacto
extremo na sobrevivência dos habitantes nativos e das gerações futuras.
Hoje a Ilha da Páscoa ainda encontra-se despida das antigas e poderosas
florestas."<br />
<br />
"O documentário seguiu em frente para examinar outra ilha isolada do
Pacífico Sul chamada Anuta. Anuta tem praticamente as mesmas condições
da Ilha da Páscoa, isolada e vulnerável com seus recursos limitados. A
diferença entre Anuta e Ilha da Páscoa é principalmente a atitude
cultural. Enquanto as antigas culturas da Ilha da Páscoa tinham uma
atitude competitiva uma com a outra e pouco respeito pelos recursos
existentes, a população de Anuta é o oposto. Consideração pelos outros é
a espinha dorsal do povo anutano. Eles têm uma filosofia chamada
'Aropa', que é um conceito de doar e compartilhar com os outros e é uma
linha guia para como tratar um ao outro. Um exemplo dessa filosofia é
que toda família na ilha recebe uma unidade de terra para cultivar
comida para alimentar-se e também àqueles a sua volta. Eles estão bem
cientes da escassez de recursos e da importância de cuidar um do outro.
Eles sabem o que têm que fazer a fim de sobreviver e prosperar."<br />
<br />
"É bastante óbvio qual atitude cultural é a mais
sustentável. Os fatos e os exemplos da vida real estão aí. Competição e
crescimento infinito dentro de um sistema finito não eram, não são e
jamais serão sustentáveis. Se ao menos pudéssemos aprender com as
experiências dessas ilhas isoladas, poderíamos mudar a inevitável
destruição de nossa ecologia, que vem sendo preparada para nós pelo
corrente sistema de mercado monetário."<br />
<br />
<br />
<i>Agora, alguns comentários...</i><br />
<br />
<b>Claro que o exemplo</b>
de uma pequena ilha isolada no oceano não pode ser tão diretamente
aplicado ao mundo todo. A evidência gritante da limitação de recursos
favorece o desenvolvimento de uma consciência adequada a essa realidade,
e o estilo de vida que se desenvolve nesse cenário é obviamente muito
mais simples. Mas o mundo como um todo também é limitado em seus
recursos, e em algum momento eles atingem a exaustão. Recursos mais
abundantes e mais diversificados até propiciam um estilo de vida mais
sofisticado e complexo, mas se não houver um equilíbrio o esgotamento é
questão de tempo. Ou seja, a diferença entre uma ilha e o mundo não é de
princípio, mas de escala.<br />
<br />
<b>Além do mais,</b> destaca-se a diferença entre as duas ilhas. Se
os anutanos viram o óbvio da sua realidade, por que os habitantes da
Ilha da Páscoa, capazes de fazer maravilhas, não viram essa mesma
realidade antes que fosse tarde demais? E de que serviram suas grandes
realizações depois que seu ambiente já encontrava-se devastado? Não
estaria a humanidade como um todo nesse caminho? Em outra escala, claro.<br />
<br />
<b>O autor mostra-se</b> bastante conciso em sua narrativa (afinal,
em tempos de twitter e facebook, ninguém lê nada com muito mais de meia
página), mas observa-se nas entrelinhas que compartilhamento e
colaboração foram as formas encontradas de lidar com poucos recursos e
evitar o desperdício. Cada família utiliza os recursos na dimensão de
sua necessidade e compartilha com os demais na medida de sua
possibilidade. Acumulação, tanto de produtos como dos meios de produção,
seria inviável nessa sociedade, pois forçaria os menos favorecidos
contra a conservação dos recursos naturais, comprometendo as gerações
futuras.<br />
<br />
<b>Em tempo,</b> não assisti ao documentário e não, nunca estive em
Anuta ou Ilha da Páscoa. Mas mesmo que isso fosse uma fábula de ficção,
ainda assim faria sentido, e é o que importa.<br />
<br />
<b>Fontes (conforme o original):</b><br />
<br />
Feinberg, R (1988)<br />
'Polynesian Seafaring and Navigation: Ocean Travel in Anutan Culture and Society.' Ohio: Kent State University Press.<br />
<br />
A. Strathern, P. Steward, L.M. Carucci, L. Poyer, R. Feinberg, C. Macpherson (eds) (2002)<br />
'Oceania: An Introduction to the Cultures and Identities of Pacific Islands.' NC Carolina Academic Press.<br />
<br />
Feinberg, R (2004)<br />
'Polynesian Life ways for the 21st Century. Prospect Heights,' IL: Waveland Press.<br />
<br />
Paper discussing socio-political change on Anuta, Feinberg, R (1982)<br />
(PDF document)<br />
<a href="http://patriot.lib.byu.edu/PacificStudies/image/10910221792004_vol_5_no_2.pdf" target="_blank" title="http://patriot.lib.byu.edu/PacificStudies/image/10910221792004_vol_5_no_2.pdf">http://patriot.lib.byu.edu/<wbr></wbr>PacificStudies/image/<wbr></wbr>10910221792004_vol_5_no_...</a><span></span><br />
<br />
<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Easter_Island" target="_blank" title="http://en.wikipedia.org/wiki/Easter_Island">http://en.wikipedia.org/wiki/<wbr></wbr>Easter_Island</a>Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-21640577457125864822012-05-24T06:53:00.000-07:002012-05-24T06:53:55.590-07:00O Estado de Ineficiência e A Cultura do "Faça Você Mesmo"<i>Este texto mais ou menos segue um outro anterior, <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/sociedade-da-ineficiencia.html" target="_blank">Sociedade da Ineficiência</a>, onde tentei esmiuçar o "problema". Agora, tento analisar
mais as soluções.</i><br />
<br />
<br /><b>A ineficiência</b> observada no mundo atual é
não apenas proposital como também necessária aos sistemas econômicos
vigentes. Dos problemas e carências, reais ou induzidos, advêm as
oportunidades de negócio e geração de renda - assim como, em
consequência, a concentração de poder político e econômico. Ou seja, os
grandes detentores de poder são também os mantenedores dos grandes
problemas mundiais. Vide a grave crise financeira tão alardeada, em
contraste com a riqueza desmedida dos senhores das finanças. Ou, ainda, a
miséria das guerras, em contraste com a prosperidade da indústria
armamentista e das grandes empreiteiras que atuam na "reconstrução" de
países.<br />
<br /><b>Essas forças</b> e interesses convergem e se materializam no Estado
Moderno, dominado e pautado por lobbies, financiamentos de campanha,
corporativismos e classismos. Disperso em questões menores, embromador
em questões maiores e omisso dos grandes problemas. Enfim, ineficiente
por vocação e destino. Alguns ainda acreditam na força do voto para
melhorar a representação política e a atuação do Estado. Abençoados
sejam em sua esperança, mas <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/politica-contemporanea-o-fracasso-da.html" target="_blank">minha opinião já registrei anteriormente aqui no blog</a>.<br />
<br /><b>Algum Estado</b> há de ser necessário, presume-se. E o "Estado mínimo" é aquele que menos faz e mais deixa fazer - o problema é <i>quem </i>e <i>o que</i>.
Entes privados ou auto-organizados tendem a ser mais eficientes que o
Estado, mas na consecução de seus próprios objetivos. Se esses entes são
os mesmos que, indiretamente, já governam hoje os Estados, os
resultados que já são ruins para a sociedade tendem a ser piores. O
Estado só será mais eficiente para a sociedade se for diretamente
controlado por essa sociedade - em outras palavras, se a sociedade tomar
as rédeas e tornar <i>Estado </i>o conjunto de suas decisões e ações diretas, sem intermediação.<br />
<br /><b>A prática do "Faça Você Mesmo"</b> (<i>do it yourself</i>, no original
em inglês) ainda é recente, mas se alastra rapidamente e vem
demonstrando o quanto é possível essa ação direta da sociedade. Munidos
das modernas ferramentas de comunicação, grupos independentes se formam
no exato instante em que surge um problema a ser tratado. Em pouco
tempo, trocam idéias e elaboram uma solução, partindo em seguida para
sua execução. Dependendo do tamanho do problema, o grupo que se forma
pode ser bem maior, e consegue até mesmo reunir recursos materiais e
expertises técnicas que se façam necessárias. Se esses grupos
encaminhassem seu problema, já com a proposta de solução, para uma
prefeitura ou qualquer outro órgão público, em quanto tempo teriam uma
resposta? E quanto tempo mais para iniciar a execução? E para concluir o
trabalho, se chegar a ser concluído? Agindo de forma direta, um grupo
bem organizado faz acontecer de um dia pro outro. E grupos que se reúnem
em torno de objetivos claros e interesses genuínos costumam ser <u>muito
bem organizados</u>.<br clear="all" />
<br />
<b>O primeiro passo</b> para fazer isso acontecer é entender que não se deve
esperar pelo Estado. Aliás, a melhor forma de pressionar o Estado a
fazer é fazer por ele, apresentando concorrência. A regra é: se você
mesmo pode fazer aquilo que necessita, <u>então faça</u>. Claro, uma discussão
prévia com vizinhos e concidadãos é de bom tom, e esse seria o segundo
passo. Esse é fácil. As redes sociais tornaram bastante natural o
contato direto das pessoas em grandes grupos ao mesmo tempo. Se todas se
interessarem de alguma forma por um tema, se envolverão. A maioria dos
temas que envolvem necessidades de uma comunidade ou vizinhança tendem a
ter consenso rápido. Por exemplo, se quero limpar uma praça, fechar
buracos de uma rua ou recuperar um calçamento, difícil alguém ser
contra, certo?<br />
<br />
<b>Por fim,</b> estando todos corresponsabilizados pelo problema e entendidos
quanto à solução de consenso, vem a execução. Como um problema comum a
muitos tende a interessar muitos, se todos se envolverem e cada um fizer
sua parte, não fica pesado para ninguém. Mesmo que necessite de
recursos, como material ou equipamentos, um grupo grande com bons
contatos (novamente as redes sociais tornam isso fácil) corre atrás e
levanta o que precisa a custos acessíveis.<br />
<br />
<b>Em se disseminando essa prática,</b> e as pessoas desenvolvendo as
habilidades do <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/o-capital-colaborativo-e-economia-do.html" target="_blank">trabalho colaborativo</a> e da discussão em rede, podemos
pensar em realizações cada vez maiores e mais complexas. <u>Não há
impedimento técnico, é uma questão de escala</u>. Em um grupo com milhares
de pessoas, quantos médicos, engenheiros e empresários haverá? Com
acesso cada vez mais fácil aos mais diversos recursos e tecnologias, o
que seria inviável a esse grupo? Minha teoria é de que, conforme a
escala de adesão das pessoas, dá para fazer qualquer coisa que um órgão
público faria (melhor e muito, muito mais rápido e barato), substituindo
aos poucos o Estado tradicional por uma sociedade auto-organizada em
rede. Seria o futuro da administração pública - nesse caso, <i>pública </i>de
verdade.<br />
<br />
<b>O Estado, tal como é hoje,</b> há de ser mais um obstáculo do que um
facilitador do processo. Lógica da concorrência ao invés da colaboração.
Estados são instituições, e como tal lutarão de forma egoísta por sua
sobrevivência. Mas, por sua própria lógica legalista, utilizam as armas
erradas: muitas vezes, tentam prender, reprimir ou processar os cidadãos
que arregaçam as mangas como se fossem vândalos ou desordeiros. Tática
suicida, pois grupos cada vez maiores se envolvem nessa rede de
colaboração e proatividade. Lutar contra significa ir contra a própria
sociedade - e o que é um Estado que vai contra sua sociedade?Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-35670794294439277342012-05-17T10:53:00.000-07:002012-06-26T05:31:46.590-07:00O Capital Colaborativo e A Economia do Terceiro Milênio<i>Para entender melhor as condições em que se torna possível a
realidade abaixo descrita, recomendo dar um pulinho em <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/04/terceira-revolucao-industrial-como.html" target="_blank">A Terceira revolução industrial</a> - mas depois volta aí!</i><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-F_ZvVfs28PFEcehBUb9EoaCr4KVyuLhXTO74lfT6T1Vq4IbMaBXctGjLhOJoxK1krXLeXwm8kWWbuyLE8UR8zhaSHUT7wdvj-TavWhLyAK2BNvnToUpWz0-MDYcrRPBZrZLunRNrpq0/s1600/network.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-F_ZvVfs28PFEcehBUb9EoaCr4KVyuLhXTO74lfT6T1Vq4IbMaBXctGjLhOJoxK1krXLeXwm8kWWbuyLE8UR8zhaSHUT7wdvj-TavWhLyAK2BNvnToUpWz0-MDYcrRPBZrZLunRNrpq0/s1600/network.jpg" /></a></div>
<b>Em uma sociedade</b> em que o principal fator de produção é o
conhecimento, a capacidade produtiva está dentro de cada indivíduo.
Mas, pela lógica desse fator de produção, a geração de valor se dá
apenas a partir da interação desses indivíduos. Ainda, diferentemente de
qualquer outro fator já utilizado, o conhecimento não se consome com o
uso, mas, pelo contrário, se multiplica a cada interação. Ou seja, o
acesso ao principal fator de produção da atualidade não se dá pela
concorrência, mas pela cooperação, e sua conservação não se dá pelo
monopólio, mas pela disseminação. A economia que se estrutura sobre esse
fator de produção, consequentemente, não é competitiva, mas
colaborativa, e o que crianças de maternal entendem naturalmente ainda é
um desafio para o raciocínio de boa parte do mundo.<br />
<br />
<b>As características inerentes</b> ao fator conhecimento, da
apropriação individual e da disseminação aberta e irrestrita - não é
mais viável qualquer regulação efetiva sobre isso - alteram o foco dos
processos produtivos, da grande organização para a rede informal de
indivíduos, e alteram também, como consequência, a lógica que estabelece
os objetivos desses processos. Enquanto organizações econômicas visam o
lucro financeiro, e organizações outras visam acúmulo de capital
político, e todas visam sua própria permanência no tempo, indivíduos têm
as mais diversas motivações: ganho financeiro e capital político
inclusive, mas também autodesenvolvimento, realização pessoal, espírito
de comunidade, engajamento social e outros. Da mesma forma que cada
indivíduo tem um diferente conjunto de conhecimentos, também tem
diferentes necessidades e motivações.<br />
<br />
<b>A partir dessa constatação,</b> se torna interessante um
ambiente de trocas constantes, em duas vias, conforme a máxima <i>"de cada
um, suas capacidades; para cada um, suas necessidades"</i>. Não chega a ser
um escambo, pois a rede que se forma é plenamente conectada. Cada
indivíduo conectado joga para dentro da rede sua contribuição (de cada
um, suas capacidades) e retira de lá o que lhe interessa (para cada um,
suas necessidades). Lembrando que nem lá nem cá ocorre qualquer
subtração, mas multiplicação.<br />
<br />
<b>Quando o fator a ser considerado</b> é o conhecimento, não há
consumo, apenas produção, de modo que não há tendência de escassez, mas
sim de abundância, o que torna sem efeito quaisquer práticas de reserva
de mercado, concorrência ou monopólio. A formação de uma rede de acesso
irrestrito baseada em colaboração é natural. Não havendo restrições,
essa rede tende a crescer em nível global. Extrapolando, imaginemos
todos os indivíduos do mundo conectados uns aos outros pelos recursos de
telecomunicações, contribuindo com o que têm e aproveitando do que
precisam. Organizações econômicas ou políticas perdem muito de sua
função nesse cenário - senão toda. Os indivíduos tornam-se capazes de
agruparem-se segundo cada um de seus interesses e necessidades, pelo
tempo em que estes durarem, e em grupos maiores ou menores conforme a
importância de cada assunto para o conjunto da sociedade.<br />
<br />
<b>Não é necessário</b> forçar o indivíduo à colaboração (o que
aliás nem faz sentido) ou mesmo ter muita fé na pré-disposição em
colaborar. A própria interação já estabelece a colaboração, e à medida
que o indivíduo busca suas necessidades na rede ele automaticamente
colabora para o enriquecimento da rede. Lembremos que o fator aqui é o
conhecimento, e até uma pergunta ou crítica contribui para seu
crescimento, e o simples acesso, ainda que calado, contribui para lhe
atribuir valor. De qualquer forma, o mais natural e esperado é que cada
um, enquanto tenha liberdade irrestrita para atuar onde quiser e como
puder, demonstre interesse em participar daquilo que acontece ao seu
redor e modifica o seu ambiente.<br />
<br />
<b>Ao menos em um primeiro momento,</b> haverá dificuldades com
alguns perfis de colaboradores. Como bem sabe quem já trabalhou em
ambientes de trabalho mais horizontais, há por exemplo o falso
interessado e o incompetente motivado. O incompetente motivado quer
muito participar, se envolver, chamar para si, mas simplesmente não tem
as condições necessárias àquele trabalho. Difícil dar esse feedback para
alguém tão motivado. Com acesso irrestrito ao conhecimento e acúmulo de
experiência em trabalho colaborativo, isso deve ter cura. Já o falso
interessado não quer realmente contribuir ou participar, mas apenas
fazer parecer, dizer que faz e acontece, motivado por ego inflado
talvez. Em uma rede irrestrita onde as pessoas se movimentam livremente
conforme seus interesses e são avaliadas por seus pares pela sua
interação efetiva, isso perde o sentido.<br />
<br />
<b>O capital colaborativo</b> - o conhecimento que o indivíduo
acumula ao mesmo tempo em que compartilha - e a organização do trabalho
em rede libertam as pessoas de trabalhos enfadonhos, indesejados ou
inadequados. Cada um se vê livre para encontrar aquilo que gosta e sabe
fazer, tornando-se capaz de desenvolver todo o seu potencial e
contribuir de forma efetiva para a sociedade. Uma economia que se
estrutura sobre esse tipo de trabalho há de ser muito mais produtiva e
eficiente, consequentemente também sustentável. Mais do que isso,
permite a distribuição da riqueza gerada, que tende a ser abundante. Se o
principal fator de produção é abundante, tudo o mais tende a ser.<br />
<br />
<b>No âmbito político</b> e social, o caminho da eficiência é um
pouco mais complexo. Aqui, as pessoas devem colaborar não somente na
consecução das atividades necessárias, mas também nos objetivos
propostos, que afinal são coletivos. Decisões políticas afetam a toda
uma comunidade e, para ter a colaboração de todos, precisam atender aos
anseios de todos - ou ao menos não ferir os anseios de ninguém. Melhor
do que a simples democracia - ditadura da maioria sobre a minoria - é a
<b>construção do consenso</b>, algo que só é possível em um ambiente
colaborativo, e também é o mais indicado. A partir de diferentes
soluções possíveis a uma questão, se constrói uma nova, maior e melhor
que as anteriores, e que resolve a questão para todos os envolvidos.<br />
<br />
<b>A colaboração</b> em larga escala, para fins sociais, políticos e
econômicos, advém da prática e da experiência. Hoje pode parecer
utópico que grandes grupos de pessoas se entendam e atinjam alguma
harmonia ou consenso para as mais diversas questões, mas a estranheza
que a idéia causa em muitos deve-se à pouca prática de nossa sociedade
no assunto. À medida que as pessoas sintam-se envolvidas nos processos
sócio-econômicos e corresponsáveis pelas alterações em seu ambiente,
buscarão desenvolver as habilidades básicas de colaboração, cocriação e
construção de consenso - no fundo, naturais a um ser social, mas que
desaprendemos ao longo da vida e acabamos tendo que reaprender.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-58187313106395410912012-05-14T10:36:00.000-07:002012-07-12T17:03:51.708-07:00Sociedade da Ineficiência<i>A questão da ineficiência - endêmica e proposital - é tema recorrente
do meu cancioneiro, como nos artigos sobre a <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/politica-contemporanea-o-fracasso-da.html" target="_blank">democracia representativa</a> e sobre <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/aldeia-contemporanea-as-cidades-do.html" target="_blank">as cidades do século 21</a>. É que sou repetitivo,
chato mesmo. Mas acho realmente curioso como uma sociedade tão
sofisticada desenvolveu um aspecto tão torpe. Convenhamos, é intrigante -
a não ser que eu esteja inventando isso, mas acho que não.</i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1GuOTm-5q70PxmjwbFAfibYGCid0uy3hdEpaDhrQ-9WM9cQsI84rGp-fnYSom7aKXtHgHv8liUb5jdd8B6NAl7pgH4t8saHEv8imBYa35TjuGI9zUkDMIkbVjH8LzlzcMBU94LeJmRWs/s1600/obsolescencia_programada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1GuOTm-5q70PxmjwbFAfibYGCid0uy3hdEpaDhrQ-9WM9cQsI84rGp-fnYSom7aKXtHgHv8liUb5jdd8B6NAl7pgH4t8saHEv8imBYa35TjuGI9zUkDMIkbVjH8LzlzcMBU94LeJmRWs/s320/obsolescencia_programada.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Obsolescência programada: comprar, jogar fora, comprar mais.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>Já é notório</b> e bem estudado o fenômeno da obsolescência
programada ou percebida, estado da arte do marketing de ineficiência. A
programada é um genial recurso de design: produtos de qualquer gênero já
são fabricados para não durarem. Quebram e não podem ser consertados,
ou são superados por versões mais modernas e não podem ser
reaproveitados. Como o nome diz, programada, é auto-explicativo.
Poderíamos fabricar lâmpadas e baterias que duram décadas, computadores e
eletrônicos que fazem upgrade com pequenos ajustes, peças de reposição
baratas e reaproveitáveis para os mais diversos equipamentos, mas não o
fazemos: precisamos vender sempre mais computadores, equipamentos, peças
etc, e jogar tudo fora.<br />
<br />
<b>Já a obsolescência percebida</b> é um genial recurso de
propaganda: os consumidores são periodicamente convencidos de que estão
desatualizados em relação à moda ou à última sensação do mundo da
tecnologia ou da indústria automotiva. Assim, uma roupa, calçado, gadget
ou até mesmo um automóvel são abandonados muito antes do fim de sua
vida útil para dar lugar a outro mais novo e mais <i>in</i>.<br />
<br />
<b>Bem,</b> produzir sempre as mesmas coisas para atender as mesmas
necessidades, sempre renovadas, já seria ineficiente o bastante, mas o
pior é o impacto indireto: consumo excessivo de matéria-prima por um
lado e produção excessiva de lixo por outro. A reciclagem em larga
escala trataria esse impacto, mas restaria ainda o desperdício de
energia, espaço físico para armazenagem e custos de transporte.<br />
<br />
<b>A prática da obsolescência</b> tem seus equivalentes também na
ineficiência de serviços. Processos e fluxos de informação são
desenhados para não resolver problemas - pelo menos não antes de muito
custo. A tradicional burocracia das grandes repartições públicas e
privadas não tem qualquer necessidade técnica de continuar existindo,
mas sobrevive não apenas pela tradição, mas principalmente por um
interesse em cultivar aqueles problemas que legitimam a existência da
repartição. Percebe-se facilmente que não há grandes intenções de
solucionar o que quer que seja da melhor forma possível, mas sim de
estender os processos ao máximo possível, envolvendo toda uma série de
estruturas e pessoas ao longo do caminho.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqdeYGF4zWiA9_XtoxS_D9QDscio96_m2L1DyDGcY1s0lx2ZZBilc3UB8QMJk7YgWm7hKK9AE1NUuQcllRwz75o3Lf_GydMvBwb336ecvrbNkCk4pEFZrC6HdT5Wl3hMZ1ZNK18kuRUjE/s1600/callcenter2-full%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqdeYGF4zWiA9_XtoxS_D9QDscio96_m2L1DyDGcY1s0lx2ZZBilc3UB8QMJk7YgWm7hKK9AE1NUuQcllRwz75o3Lf_GydMvBwb336ecvrbNkCk4pEFZrC6HdT5Wl3hMZ1ZNK18kuRUjE/s320/callcenter2-full%255B1%255D.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Vamos estar resolvendo seu problema... not!"</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b>A ineficiência em serviços</b> não apenas gera empregos. Cria
oportunidades. Envolve o consumidor em uma teia de necessidades que ele
não deveria ter, e o obriga a consumir novos serviços que ele não
deveria precisar. É como entrar em uma loja de celulares para reclamar
do péssimo serviço e sair de lá com um aparelho novo e um novo e maior
contrato, que logo em seguida começa a dar novos e maiores problemas.
Uma fidelização maligna.<br />
<br />
<b>A sociedade,</b> de um modo geral, tem dificuldade em perceber o
quanto isso é intencional, pois nossos hábitos protegem a ineficiência. A
maioria das classes sociais e categorias profissionais aceitam,
praticam e cultivam hábitos essencialmente inúteis à evolução humana:
convenções, que excluem ou desencorajam novas formas de pensamento ou
prática, além de fechar espaço ao questionamento crítico; formalismos,
que podam a criatividade humana e tiram a flexibilidade dos processos de
trabalho ou de comunicação; e aparências, que são um grande sistema de
adesão à falsa crença de que tudo está bem, ou de que ao menos cada um
faz o seu melhor para que esteja, e que os métodos empregados são os
melhores possíveis. Dessa forma, profissões inteiras se ocupam em usar
palavreados difíceis, vestir trajes distintos, defender normas vazias
que apenas servem a sua autopreservação e praticar procedimentos quase
ritualísticos que supervalorizam seu trabalho e nada agregam a quaisquer
serviços. E só. E pode-se ter certeza que todo esse faz-de-conta custa
caro à sociedade duas vezes: pela manutenção das estruturas
corporativistas e pela energia gasta em procedimentos e atividades que
não agregam qualquer valor.<br />
<br />
<b>As categorias profissionais</b> até mostram-se arraigadas a
tradições, valores, coisas bonitas, mas a verdade é que todas, enquanto
classes, buscam restrições de mercado para si, para sua maior pujança no
caso das bem sucedidas ou para sua sobrevivência no caso das mais
ultrapassadas. E, claro, restrição de mercado também é um fator de
ineficiência. Alivia a consciência pensar que a restrição protege a
sociedade, qualifica os serviços, promove o melhor conhecimento. A
verdade é que diminui a concorrência e a diversidade, restringe o
conhecimento e atrasa seu desenvolvimento e distancia a sociedade da
apropriação dos serviços e conhecimentos que lhe são necessários.
Interessante para quem vende esses serviços, mas para a sociedade não é.<br />
<br />
<b>Toda intermediação</b> de informação ou serviço gera alguma forma
de ineficiência por definição. Na melhor hipótese, consome tempo, e na
pior inviabiliza o serviço. Em vez de apropriar-se do conhecimento e
evoluir, a sociedade permanece refém de um corporativismo ou de
convenções classistas que sempre restringem a oferta do serviço - pois
se um serviço for oferecido de forma geral e irrestrita, não fará
sentido qualquer forma de corporativismo. O melhor - na verdade, pior -
exemplo dos efeitos negativos da intermediação instituída é o próprio
sistema político representativo, já comentado no artigo anterior sobre <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/05/politica-contemporanea-o-fracasso-da.html" target="_blank">política contemporânea</a>.<br />
<br />
<b>A mesma</b> máquina de mídia que promove a obsolescência
percebida também promove o papel das instituições, classes e convenções,
e divulga séries de ações sociais das mais inspiradoras, muitas vezes
até filantrópicas, mas essas entidades ou tratam de problemas que elas
mesmas criam com sua existência ou tratam de questões outras que não
lhes competem, não justificam sua existência e poderiam ser muito melhor
tratadas por outras pessoas, se houvesse espaço. A mídia tradicional
(aquela que se ocupa com promoção institucional ou comercial, e não com
informação) associa-se a corporações comerciais, governamentais ou
classistas para perpetuar esse modelo de funcionamento dos meios de
produção e serviços que, em síntese, determina como objetivo social a
manutenção dessas corporações, e não o atendimento e resolução das
necessidades da sociedade.<br />
<br />
<b>Por fim,</b> se estabelece uma relação definitiva entre ineficiência e
o modelo corporativista, pois se uma instituição de qualquer sorte
existe para tratar de um problema, ela será eficiente se eliminar esse
problema ou reduzi-lo à insignificância, o que a torna automaticamente
dispensável. Ou seja, uma instituição eficiente elimina a si mesma, o
que é o objetivo oposto de quase todas as corporações já instituídas na
sociedade. A ineficiência é totalmente presente em nossas vidas hoje, e é
desejada e necessária pelos sistemas atuais. Mas algum horizonte de
mudança desse quadro talvez possa ser apreciado no artigo sobre a <a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/04/terceira-revolucao-industrial-como.html" target="_blank">Terceira Revolução Industrial</a>. Ou, pelo menos, espero que sim. Mas,
senão, ainda escreverei mais sobre isso - pois este artigo já está
grande, o que não é nada eficiente.<span class="HOEnZb"><span style="color: #888888;"><br /></span></span>Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-39588976026315511532012-05-08T20:24:00.000-07:002012-07-12T16:50:50.323-07:00Política Contemporânea - O Fracasso da Democracia Representativa<i>Já comentei algumas idéias a respeito da necessidade da autonomia política local na vida das pessoas e da incapacidade dos grandes governos em responder aos grandes problemas atuais. Já comentei algumas vezes também sobre a ineficiência consciente e inerente aos sistemas atualmente em funcionamento no mundo. Bom, comentei sobre um monte de outras coisas, vai saber se alguém leu...</i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE9hZRrBqpKa09JvTzl67ATfA4pV2EoSgGtTsgN0cgmjWObdQ6qkZ-ZKHfMloU6N2wNXiKNGxws_-PTgTp8ELH6JoD4xfQzPu0GbW3qv9k2AK_6cFwJLgeSeybE_32TqVo0dQJQyMjFXo/s1600/politica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE9hZRrBqpKa09JvTzl67ATfA4pV2EoSgGtTsgN0cgmjWObdQ6qkZ-ZKHfMloU6N2wNXiKNGxws_-PTgTp8ELH6JoD4xfQzPu0GbW3qv9k2AK_6cFwJLgeSeybE_32TqVo0dQJQyMjFXo/s1600/politica.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Eu juro em nome do lobby..."</td></tr>
</tbody></table>
<i><br /></i><br />
<b>Eu sei,</b> criticar a classe política hoje em dia parece meio como chutar quem já está caído - com a diferença de que, nesse caso, não está realmente caído. O problema é que a grande maioria das pessoas acredita que há furos no sistema - corrupção, superfaturamento, incompetência técnica e administrativa, favorecimentos, abusos de poder -, <i>apenas </i>falhas indesejáveis que devem ser sanadas. O que algumas pessoas já começaram, bem aos pouquinhos, a entender, é que o sistema foi feito para ser assim. Na verdade, enquanto as pessoas gritam contra a corrupção, por exemplo, o sistema é realimentado, com discursos de mudanças, novos controles, novas regras, vendendo uma idéia de que as pessoas estão sendo ouvidas e de que algo será resolvido. Bem, se tudo aquilo que origina os <i>furos</i> do sistema permanece tal e qual, tudo o mais é paliativo.<br />
<br />
<b>Quanto mais</b> a autoridade pública é concentrada em grandes centros de poder, mais distante ela fica de sua respectiva sociedade, porém mais próxima dos lobistas e das grandes corporações. O representante político, por definição, está dentro da máquina do Estado mas longe do cidadão. De fato, permanece até <i>protegido</i> contra o tal cidadão! E se cidadãos comuns têm dificuldade em penetrar a máquina atrás de seus representantes, lobistas têm facilidade, prática e habilidade. O envolvimento direto entre representantes políticos e representantes dos grandes interesses privados não só é inevitável como é esperado. Dessa forma, a democracia representativa só seria capaz de atender aos anseios sociais se estes coincidirem com os grandes interesses privados. Talvez isso tenha sido verdade em algum tempo no passado, mas com certeza não é hoje.<br />
<br />
<b>Ainda que o fosse,</b> essa noção de uma democracia organizada a partir de corporações - sindicatos, grupos empresariais, entidades de classe, igrejas, canais de tv -, cada uma fazendo valer o peso de seus interesses conforme o peso de sua própria presença na sociedade, a ineficiência do modelo é evidente. No momento em que se estabelece a relação política a partir de uma corporação, passa a existir o interesse dessa própria entidade, geralmente o interesse de seguir existindo, independente do interesse original que motivou sua existência e atuação política. O melhor benefício social possível para uma entidade de representação política seria alcançar definitivamente os interesses ou solucionar definitivamente os problemas que motivaram seu surgimento, eliminando assim a necessidade de <u>sua própria existência</u>. Sem chance.<br />
<br />
<b>Sendo, portanto,</b> o interesse primário de uma entidade representativa a manutenção de sua própria existência, sua atuação se dará essencialmente em cultivar os problemas ao longo do tempo ou em estabelecer reservas de mercado para suas atividades, impondo uma relação de dependência à sociedade. Isso não é assim tão ruim. Fica ruim quando lembramos que, na democracia representativa, sempre haverá a estrutura político-partidária, ou seja, considere-se tudo o que foi dito acima <u>em dobro</u>. São duas camadas de ineficiência interagindo entre si pelos seus próprios interesses, tornando-se no fim um sistema praticamente fechado que só enxerga os anseios sociais quando estes precisam ser minimamente controlados. Agora sim parece ruim.<br />
<br />
<b>Essa realidade</b> acaba tornando-se evidente em face da complexidade das demandas sociais atuais - devida a um elevado grau de informação de boa parte da população, algo inédito na história do mundo - e da relativa facilidade em atendê-las - graças aos avanços tecnológicos disponíveis. O político profissional é simplesmente incapaz de tratar questões técnicas, mesmo as simples. Ainda que ele perceba que deve dar uma melhor resposta ao público, antes que alguém toque fogo em alguma coisa, não consegue fazê-lo, porque não dispõe da capacidade técnica. E os técnicos capazes de resolver as coisas são abundantes hoje em dia, mas estão distantes do cenário político-partidário, e o jogo político os impede de pôr as mãos na massa. O Estado, controlado por políticos profissionais, é extremamente caro e absurdamente ineficiente, mas pretende continuar assim segundo o interesse das corporações que o controlam ou vivem dele.<br />
<br />
<b>Se faltava</b> ainda alguma coisa para que as pessoas percebessem isso, veio finalmente a crise financeira que ainda se arrasta pelo mundo, e tornou mais evidente do que nunca que os partidos políticos e entidades de representação não têm soluções, não são capazes de alterar a lógica de procedimentos que já deram errado no passado e, principalmente, não são capazes de sacrificar seu próprio interesse em prol dos interesses sociais. Claro que não são, mas e aí? Qual é mesmo o ponto de tudo isso?<br />
<br />
<b>O fracasso</b> do sistema político representativo não está em sua incapacidade de responder à população ou de combater seus próprios males, mas sim no fato de que não será mais capaz, daqui pra frente, de convencer as pessoas de que ele é necessário, ou o melhor modelo possível, que só precisa corrigir algumas <i>falhas</i>... Não, se quisermos resultados diferentes, precisamos fazer diferente. É certa perda de tempo pensar em grandes mudanças na economia e na sociedade sem pensar em um novo modelo de democracia - que alguns já chamam <i>real</i> ou <i>verdadeira</i>, considerando que a atual não é o poder do povo, mas sim de representantes indiretos - que efetivamente submeta o Estado aos anseios e aspirações sociais.<br />
<div>
</div>
<div>
<b>Algumas tendências</b> já observáveis hoje em dia tornam mais fácil acreditar na viabilidade dessa nova democracia, como a prática do "do it yourself" (<i>faça você mesmo</i>), quando indivíduos assumem tarefas tradicionalmente delegadas ao Estado; o uso de redes sociais para discussão de políticas, projetos governamentais e até constituições; a formação de redes de comunidades autogeridas, que combinam a autonomia local com a integração global; e, finalmente, a adoção de novas tecnologias que tornam acessíveis serviços que até agora exigiam grande estrutura e capital, como energia, saneamento, educação e saúde.<br />
</div>
<div>
<b>A forma</b> que terá esse novo Estado da <i>democracia real</i> é algo ainda em aberto. O certo é que o Estado corporativista da democracia representativa lutará por sua própria sobrevivência, e com todas as forças das instituições que morrerão com ele.</div>Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-33970633250171944522012-05-03T05:58:00.000-07:002012-07-12T16:37:52.524-07:00Aldeia Contemporânea - As Cidades do Século 21<i>A Revolução Tecnológica, Econômica e Cultural - ainda pretendo escrever
sobre ela - já em curso está determinando os moldes de uma nova
sociedade, uma nova forma de relacionar-se com o mundo e o meio
ambiente. O que há de determinar também um novo tipo de habitat humano
para abrigar essa sociedade. Parece certo que as pessoas viverão quase
todas em cidades - mais do que hoje -, mas não são as cidades atuais do
mundo o habitat adequado à sociedade do século 21.<br />
A palavra-chave é sustentabilidade, conceito já gasto embora pouco praticado, mas o que vem a ser isso?<br />O
primeiro passo é a autonomia política. Cada comunidade deve ser capaz
de tratar seus próprios problemas de sua própria maneira, segundo seus
próprios valores e suas próprias condições ambientais.</i><br />
<br />
(Para entender melhor minha idéia sobre o papel das cidades, recomendo o
<a href="http://www.ultracontemporaneo.blogspot.com.br/2012/04/orbis-et-urbe.html">artigo anterior</a>. Para os que já são leitores do blog ou não se importam
tanto assim com minhas idéias, segue daí!)<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ftapUsY9VmwmHJrXgGrwuWdn6VO9IE3dkCgIHTAlj-mZRhEhFKJFNh0Z2bZEGFAgiHTIWiX3OWkariHuOZ5ebhzi50cN3wV4lb3KABM-_LKgw1uTJkvurIDG4eL2c1m5fb3gZHx3oLU/s1600/fujisawa-sst-project1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ftapUsY9VmwmHJrXgGrwuWdn6VO9IE3dkCgIHTAlj-mZRhEhFKJFNh0Z2bZEGFAgiHTIWiX3OWkariHuOZ5ebhzi50cN3wV4lb3KABM-_LKgw1uTJkvurIDG4eL2c1m5fb3gZHx3oLU/s320/fujisawa-sst-project1.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<b>Antes de tudo o mais</b>, diga-se que a autonomia local não tem
qualquer conflito com a integração global. Na verdade, é quase um pré-requisito
para que essa globalização seja minimamente harmônica e respeitosa da
diversidade e dos interesses sociais. Não há qualquer dualidade entre o local e
o global, mas sim a coexistência complementar e independente. E será essa independência que permitirá às cidades desenvolver as mudanças tão necessárias no futuro próximo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Uma das primeiras</b> e mais visíveis mudanças das cidades do
século 21 será a mobilidade urbana, que está diretamente ligada ao convívio social. Ao longo do século passado, as grandes
cidades correram na direção do individualismo: primeiro com o deslocamento
preferencialmente por automóveis – e preferencialmente cada um no seu; depois
com a própria eliminação da necessidade de deslocamento, trazendo a vida social
para dentro de casa, do condomínio fechado ou para a tela do computador – o que
alguém batizou nos anos 90 de <i>vida no casulo</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
Atualmente, vê-se uma tendência em reocupar os espaços,
restabelecer o convívio humano direto, atravessar os muros dos condomínios e
ganhar as ruas. Hoje, prefere-se eliminar o deslocamento burocrático –
trabalho, acesso a serviços, obrigações civis – mas preservar a mobilidade voltada
a atividades culturais e de lazer. Ao automóvel, meio de transporte individual
por excelência, sobrevirão os transportes de massa, de preferência os mais
eficientes como o metrô ou o VLT, combinados a meios complementares como a
bicicleta ou as próprias pernas.</div>
<div class="MsoNormal">
Não se trata apenas de coletivizar o espaço, mas
principalmente de <u>viabilizar a mobilidade</u> de muitas pessoas para muitos
espaços, sem ocupar esses espaços com automóveis (mero meio de transporte) e
sim com pessoas (sua própria finalidade).</div>
<div class="MsoNormal">
De fato, o automóvel sobrevive hoje no meio urbano, roubando
a atenção que seria devida a meios de transporte mais eficientes, por uma
necessidade de mercado, de consumo. E é essa mesma necessidade que financia a
propaganda para convencer as pessoas da necessidade e da máxima realização de
ser ter um carro – apesar da chocante ineficiência do carro como aquilo que, em
essência, ele é: não um instrumento de realização ou de status, mas um meio de
transporte urbano.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Aliás</b>, a questão da eficiência não diz respeito
apenas à
mobilidade urbana. Eficiência em serviços será outra característica
marcante
das cidades do século 21. Uma cidade, em sua complexidade de atividades,
requer
uma série de serviços em constante funcionamento. Hoje, mais uma vez por
uma
necessidade de mercado, esses serviços são pautados pela ineficiência.
No nível
em que ocorre, só pode ser proposital e planejada. Imagino que gere
emprego e
oportunidades de negócio. Basta ver qualquer área de suporte a clientes
de uma grande companhia. Bem, isso não é mais aceitável, se é que já foi
algum
dia.</div>
<div class="MsoNormal">
Assim como no transporte, energia, água e comunicações requerem
soluções de
eficiência, ainda que isso elimine empregos e negócios – na verdade, é
até
melhor que não sejam negócios. A cidade do século 21 será
auto-suficiente em
energia limpa, terá acesso gratuito e irrestrito às redes de
telecomunicação e
oferecerá transporte gratuito e de qualidade. Conjugo no futuro, mas
todos
esses exemplos <u>já existem</u>. Quem não acreditar em mim pode perguntar pro
google.
Não tenho dúvida de que também se chegará a um sistema de
auto-suficiência em
tratamento de água, talvez nos moldes dos <i>jardins filtrantes</i>, já em
desenvolvimento na Europa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Cidades </b>tão eficientes e auto-suficientes não poderão depender
nem da autoridade pública – que <i>não consegue</i> ser altamente eficiente – nem da
iniciativa privada – que <i>não quer</i> ser altamente eficiente. Compete às
comunidades do século 21 assumir a autoridade local e, ao mesmo tempo,
determinar e executar as providências necessárias a seu meio urbano. Já está em
fase de disseminação a prática intitulada “do it yourself” (<i>faça você mesmo</i>, ou
simplesmente DIY na abreviação em inglês). Significa exatamente o que diz: se
você quer, faça. É auto-explicativo.</div>
<div class="MsoNormal">
Um típico governo local é capaz de levar
anos estudando e elaborando projetos para demarcar uma simples ciclofaixa em
uma avenida. Um grupo de pessoas com um pouco de motivação, tinta e, de
preferência, algum discernimento o fará em uma noite. Existem <u>exemplos concretos</u>
de DIY, inclusive no Brasil, em limpeza de praças, manutenção de parques,
restauração de patrimônio histórico e realização de eventos culturais em espaço
público. Não há qualquer impedimento técnico para que se faça o mesmo com
equipes de saúde da família, escolas comunitárias ou até sistemas de engenharia
de tráfego.</div>
<div class="MsoNormal">
Claro que há um risco de conflito de interesses. Uma minoria
é capaz de executar uma intervenção por conta própria se não quiser respeitar a
vontade da maioria, e qualquer intervenção que seja desfeita e refeita conforme
grupos distintos entrem em disputa significa uma grave perda de eficiência na
vida da cidade. Mas, desde que haja o convívio social irrestrito, o bom uso das
ferramentas sociais e o respeito a um certo grau de autonomia para cada bairro
ou vizinhança, a tendência natural é de que cada comunidade desenvolva
rapidamente técnicas de debate e de construção de consenso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Considerando-se</b> a realidade aqui proposta, de cidades com
acesso praticamente irrestrito a todos os serviços essenciais e comunidades com
alto grau de autonomia para intervir em seu próprio meio físico, uma das
conseqüências mais significativas será a <u>inclusão social</u> das populações
marginalizadas, o que por si só reduz drasticamente grandes problemas urbanos
atuais, como a violência, o subemprego e os bolsões de miséria.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Talvez</b> muitas cidades no mundo passem todo o século 21
tentando em vão tornarem-se cidades do século 21, mas não há um caminho correto
pré-definido, cada uma poderá encontrar um caminho diferente e igualmente bom.
O certo é que isso dependerá principalmente da capacidade de cada comunidade em
assumir e construir seu próprio destino.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Sugestões de tags para o google: “jardins filtrantes”, “do
it yourself”, transporte+VLT, “energia limpa”, “cidades auto-suficientes”.</i></div>Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-579432197933147292012-04-25T20:15:00.000-07:002012-04-25T20:15:42.948-07:00Orbis et UrbeAtualmente, não-sei-quantos porcento da população mundial vive em cidades. O número varia conforme a fonte, mas é sempre alto, tipo muitos porcento. E é praticamente total se considerarmos a relativa urbanização de muitas comunidades rurais - notadamente as mais populosas. De fato, o mundo hoje é uma grande rede de cidades, de diferentes tamanhos, mas todas interligadas e cada vez mais próximas.<br />
Aliás, a cidade é o ideal, o modelo ótimo de organização social humana. Uma comunidade suficientemente pequena para compartilhar o mesmo espaço físico mas suficientemente grande para reunir os diversos talentos e aptidões necessários aos seres humanos; um centro de especialização e combinação dos ofícios e serviços que desenvolvem uma sociedade, onde o produto das trocas e interações humanas é mais que proporcional ao esforço empregado na infra-estrutura do meio físico. Insetos têm seus formigueiros e colméias, humanos têm cidades - que, a bem da verdade, são muito mais arejadas e até mais limpas, mesmo as sujas.<br />
Toda evolução humana foi, de certa forma, uma libertação de ambientes isolados de produção - fazendas, castelos, minas, recentemente fábricas - rumo à concentração em ambientes de convívio e de intercâmbio cultural - o que há de ser a própria finalidade de um ser que se diz social. Contudo, nem sempre esses espaços de convívio humano evoluem no compasso do mundo - talvez quase nunca.<br />
À medida que a população se multiplicou e o mundo se espalhou, os problemas urbanos se acumularam. As cidades deram lugar a cidades maiores, que deram lugar a cidades-estado, ligas de cidades, até ceder lugar aos grandes Estados, e a partir daí a cidade perdeu sua importância política até culminar na recente tendência de transnacionalização dos Estados. É como uma desistência: ficou muito difícil botar ordem na coisa toda, então atribua-se esse papel a corporações - inicialmente públicas, mas também privadas. Ora, se vivemos na cidade, as decisões que moldam nossa vida deveriam estar tão próximas quanto possível das cidades.<br />
Há 200 anos, os problemas maiores eram relativos a higiene e saúde, hoje são a mobilidade urbana e a habitação. A má distribuição de renda, emprego, oportunidades e qualidade de vida leva a uma ainda pior distribuição populacional: enquanto há desertos populacionais pelo interior, incham-se as periferias das grandes cidades, com a consequente precarização no planejamento urbano, marginalização de comunidades inteiras e a exclusão social.<br />
Se enxergados de dentro de uma típica cidade moderna, os grandes problemas seriam o sistema de saúde, a mobilidade, a acessibilidade, mas quem define problemas é o abstrato Estado, que só enxerga a economia internacional e os níveis de consumo. Assim, seguimos, por exemplo, incentivando o uso do automóvel, algo já inviável nas grandes cidades. Seguimos produzindo e acumulando lixo, com toda sua dificuldade de descarte ou reaproveitamento, gastando água, utilizando fontes de energia poluentes - e por aí vai.<br />
A cidade moderna está claramente descolada do caminho de resolução de seus problemas, e não poderia ser diferente, já que as decisões são tomadas em outras instâncias, com outras preocupações. O necessário, antes de mais nada, é retomar o protagonismo do cenário local na vida social, para então voltar a organização social a sua própria razão de existir: as pessoas. Reorganizar o espaço urbano com vista a seu uso por parte das pessoas, de preferência estimulando a interação e o convívio.<br />
Com toda tecnologia atual em telecomunicações, dentre outras, é perfeitamente possível viver localmente pensando globalmente. Cada comunidade é capaz de aprender as boas práticas de qualquer outra ao redor do mundo, e copiá-las ou adaptá-las conforme sua própria conveniência. Essa seria uma verdadeira rede mundial de comunidades sustentáveis, capaz de redistribuir serviços e oportunidades e de intercambiar idéias e conhecimento para a resolução de problemas essencialmente práticos - restabelecendo assim a excelência da organização urbana enquanto modelo de organização social.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-73868708786703652742012-04-24T13:09:00.000-07:002012-04-24T13:09:17.762-07:00A Terceira Revolução Industrial: Como a Internet, Energia Verde e Impressão 3-D estão inaugurando uma era sustentável de Capitalismo Distribuído<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
<i>Esse texto foi traduzido por mim a partir do original de <u>Jeremy Rifkin</u>. Como a tradução é um tanto livre, apesar de tentar ser fiel aos conceitos do autor, sugiro fortemente a leitura do original em inglês em</i></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://www.zeitnews.org/applied-sciences/the-third-industrial-revolution-how-the-internet-green-electricity-and-3-d-printing-are-ushering-in-a-sustainable-era-of-distributed-capitalism.html"><i>http://www.zeitnews.org/applied-sciences/the-third-industrial-revolution-how-the-internet-green-electricity-and-3-d-printing-are-ushering-in-a-sustainable-era-of-distributed-capitalism.html</i></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>As grandes revoluções econômicas da História ocorrem
quando novas tecnologias de comunicação convergem com novos sistemas de
energia. Uma revolução energética torna possível um intercâmbio comercial mais
expansivo e integrado. A revolução em comunicações que a acompanha permite
gerenciar essas novas e complexas atividades comerciais, tornadas possíveis
pelos novos fluxos de energia.</b><br style="mso-special-character: line-break;" />
<br style="mso-special-character: line-break;" />
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
Atualmente, as tecnologias da Internet e das fontes de energia renováveis
estão começando a convergir para criar uma nova infra-estrutura para uma
Terceira Revolução Industrial que irá mudar a forma como o poder se distribui
no século 21. Na era que se aproxima, centenas de milhões de pessoas produzirão
sua própria energia renovável em suas casas, escritórios e fábricas e
compartilharão energia verde entre si em uma "Internet Energética" da
mesma forma que hoje nós geramos e compartilhamos informação on-line. A
formação de um sistema de energia renovável, carregado a partir de casas e
edifícios, parcialmente armazenado na forma de hidrogênio, distribuído através
de uma rede de energia verde, e conectado a sistemas de transporte de emissão
zero, abre as portas para a Terceira Revolução Industrial. <br />
Enquanto a economia da TRI possibilita que milhões de pessoas produzam sua
própria informação virtual e energia, uma nova revolução digital da manufatura
levanta agora a possibilidade de produção própria de bens duráveis. Nessa nova
era, qualquer um pode vir a ser seu próprio fabricante de bens, da mesma forma
que terá seu próprio site e será sua própria companhia de energia. O processo
chama-se <b>Impressão 3-D</b>; e ainda que soe como ficção científica, já está no ar e
promete mudar completamente a forma como pensamos a produção industrial.<br />
Pense em apertar o botão de imprimir em seu computador e enviar um arquivo
digital a uma impressora jato-de-tinta, exceto que, com uma impressão 3-D, a
máquina gera um produto tridimensional. Utilizando recursos de CAD, o software
orienta a impressora a gerar sucessivas camadas do objeto com o uso de
plásticos, pós ou metais para materializar as formas. A impressora 3-D pode
produzir múltiplas cópias exatamente como uma máquina fotocopiadora. Todo tipo
de bens, de jóias a celulares, peças de automóvel ou de aviões, próteses
médicas e baterias estão sendo <i>impressas</i> no que está sendo chamado
de "manufatura aditiva", a qual distingue-se da "manufatura subtrativa",
que envolve corte e partição dos materiais para montá-los.<br />
Empreendedores 3-D são particularmente otimistas sobre a manufatura aditiva,
pois o processo requer tão somente 10% da matéria prima usada na manufatura
tradicional e usa menos energia que uma fábrica convencional, reduzindo assim
drasticamente os custos.<br />
Da mesma forma que a Internet reduziu radicalmente custos de geração e
disseminação de informações, dando origem a novos negócios como Google e
Facebook, a manufatura aditiva tem o potencial de reduzir drasticamente os
custos de produção de bens duráveis, tornando os custos suficientemente baixos
para encorajar centenas de milhares de <i>miniprodutores </i>- empresas de pequeno e médio
porte - a desafiar e potencialmente superar as gigantes da indústria que
estavam no centro das economias da Primeira e Segunda Revoluções Industriais.<br />
Companhias start-up já estão entrando no mercado de impressão 3-D com nomes
como Within Technologies, Digital Forming, Shape Ways, Rapid Quality
Manufacturing, Stratasys, Bespoke Innovations, 3D Systems, MakerBot Industries,
Freedom of Creation, LGM e Contour Crafting, e estão determinadas a reinventar
a própria idéia de manufatura na terceira era industrial.<br />
A energia poupada a cada etapa do processo de manufatura digital, desde a
redução na quantidade de material utilizada até o menor dispêndio de energia na
fabricação do produto, se aplicada através de toda economia global, leva a um
ganho de qualidade em eficiência energética além de qualquer coisa imaginável
na primeira e segunda revoluções industriais. Quando a energia usada para
alimentar o processo de produção é renovável e ainda gerada <i>on-site</i>, o impacto
total dessa revolução torna-se fortemente aparente. Considerando que
aproximadamente 84% dos ganhos de produtividade na produção industrial e na
indústria de serviços são atribuídos a ganhos de eficiência termodinâmica -
apenas 14% dos ganhos de produtividade são resultado de capital investido em
força de trabalho - nós começamos a captar o significado do enorme ganho de
produtividade que acompanhará a Terceira Revolução Industrial e o que isso
significará para a sociedade.<br />
A democratização da produção está sendo acompanhada pela queda dos custos de
marketing. A Internet transformou o marketing de uma despesa significativa em
um custo negligenciável, permitindo que start-ups e empresas de pequeno e médio
porte comercializem seus produtos e serviços em sites, como o Etsy, que estendem-se
através do espaço virtual e possibilitam competir e mesmo superar muitas das
gigantes empresariais do século 21.<br />
À medida que a nova tecnologia 3-D se propaga, a fabricação de produtos
personalizados <i>just-in-time</i> e <i>on-site</i> também reduzirá os custos logísticos, com
a possibilidade de grande economia de energia. O custo de transporte de
produtos irá despencar nas próximas décadas devido a uma crescente lista de
produtos que serão produzidos localmente em milhares de microfábricas e
transportados regionalmente por caminhões abastecidos por energia verde e
hidrogênio gerado <i>on-site</i>.<br />
A escala horizontalizada da Terceira Revolução Industrial faz pequenas e
médias empresas florescerem. Ainda assim, companhias globais não desaparecerão.
Em vez disso, elas irão cada vez mais se metamorfosear de produtores primários
e distribuidores em agregadores. Na nova era da economia, seu papel será de
coordenar e gerenciar as múltiplas redes que movem o comércio e negócios
através da cadeia produtiva.<br />
O rápido declínio nos custos das transações provocado pela Terceira
Revolução Industrial está conduzindo à democratização da informação, energia,
produção, marketing e logística, e ao prenúncio de uma nova era de capitalismo
distribuído que é como mudar a própria maneira com que pensamos a vida
econômica no século 21.<br />
<br />
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Para um olhar mais detalhado sobre como a impressão 3-D na Terceira
Revolução Industrial irá transformar a economia global, leia o material de
Jeremy Rifkin no <a href="http://zeitnews.org/" target="_blank">zeitnews.org</a>.<br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Jeremy Rifkin é autor do best seller "The
Third Industrial Revolution, How Lateral Power is Transforming Energy, the
Economy, and the World". </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É consultor da União
Européia e de chefes de Estado ao redor do mundo. É instrutor senior no Wharton
School's Executive Education Program na Universidade da Pennsylvania e
presidente da Foundation on Economic Trends, em Washington.</span>Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-65650886892229297462012-04-18T20:07:00.000-07:002012-04-18T20:07:54.724-07:00Perspectivas ContemporâneasO novo milênio foi, até agora, um campo aberto aos mais diferentes ânimos. Os pessimistas encontram motivos de sobra para acreditar em um futuro apocalíptico. Tanto quanto os otimistas, para prever um futuro de verdadeira utopia.<br />
Mais do que a virada de calendário, o início dessa era foi marcado por auspiciosos acontecimentos tais como World Trade Center, Enron, invasões militares e crises econômicas. Ao terrorismo militante seguiu-se o terrorismo econômico, e nesse meio tempo ganharam força o terrorismo de Estado e o terrorismo ecológico. A militância terrorista ganhou ares de diversidade, como uma espécie de braço violento das diversas fobias: étnica, religiosa, sexual. Metade do mundo vive sob o medo de conflitos armados, outra metade sob o medo do desemprego e da espoliação.<br />
Enfim, a perspectiva apocalíptica é perfeitamente palpável: um mundo seco, devastado, miserável, estilo <em>Mad Max</em>. Mas talvez essa seja uma visão um tanto determinista - estamos no caminho da degradação econômica, social e ambiental, e seguiremos nele inevitavelmente até o amargo fim.<br />
Nesse ponto, os mais otimistas apresentam outro raciocínio. Apontam que o mundo chegou a um ponto em que o despertar é inevitável, e que a partir daí a humanidade rapidamente se reencaminhará para a real solução de seus problemas - que não são novos, mas históricos, e se tornaram evidentes.<br />
A redenção da humanidade passaria, basicamente, por duas condições: o <strong>despertar da racionalidade</strong>, de compreender as limitações do ser humano, dos recursos naturais, dos valores históricos que permeiam a economia, a cultura e a sociedade, dos preconceitos, das fobias; e a <strong>adesão à tecnologia</strong>, de abraçar definitivamente soluções técnicas e lógicas para os problemas, limitações e carências. Considerando-se a capacidade tecnológica atual, nas mais diferentes áreas do conhecimento, não é exagero nenhum acreditar em uma salvação através da tecnologia, desde que removidos os obstáculos culturais - o que se resolveria pelo tal despertar. E não se trata aqui de apologia à tecnologia. A tecnologia nada mais é que a aplicação prática do conhecimento humano discutido e refinado pela experiência - o que, com certeza, merece toda apologia.<br />
A tecnologia atualmente disponível, se corretamente utilizada, erradica a fome no mundo e reverte os processos de degradação ambiental em poucos anos. Substitui os combustíveis fósseis por fontes renováveis, a indústria poluidora por indústria limpa, lixo por reciclagem - tudo isso em prazos muito inferiores aos já propostos por governos e organizações supranacionais. Na verdade, resolve definitivamente todo tipo de carência material ou de limitação de acesso a serviços. Não é uma questão de viabilidade técnica, mas de vontade institucional.<br />
A natureza humana não condiz com uma caminhada resignada rumo a um destino cinzento, mas com adaptação em nome da sobrevivência. E essa necessidade de readaptação fica cada vez mais clara à medida que os terrores atuais oprimem os indivíduos, ou seja, são justamente os sinais apocalípticos os catalisadores da mudança que levará a um mundo diferente, mais humano, ecológico, sustentável - melhor.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3282834280646884956.post-56429091371226331732012-04-11T20:18:00.000-07:002012-04-11T20:18:58.039-07:00Primeira Postagem Séria - mas ainda experimentalUma das coisas mais interessantes da contemporaneidade é o <em>não-dualismo</em>, ou, como eu gosto de explicar para mim mesmo, a capacidade de pensar multidimensional - claro que explicações melhores podem ser obtidas no <em>google</em>. Não sei se em algum momento da história a humanidade foi capaz de racionalizar de forma não linear e não pragmática, mas acredito que não. E imagino que seja decorrência direta do contato permanente de qualquer pessoa - desde que <u>o queira</u> - com múltiplas formas de pensar e compreender o mundo, algo certamente inédito e tornado possível pelo avanço da Internet, redes sociais, blogs etc.<br />
Há algum tempo vi uma pesquisa sobre o jovem brasileiro. A pesquisa definia uma faixa etária para caracterizar o que significa jovem, que me deixou de fora por alguns anos, o que me chateou muito, mas chegava a conclusões muito interessantes sobre o perfil dessa específica faixa etária da população. Uma das <strong>principais características</strong> era justamente o não-dualismo.<br />
Por diferente, essa é uma forma de pensar ainda estranha para a maioria das pessoas, sobretudo aquelas excluídas da faixa etária dita <em>jovem</em>, mas para quase todos aqueles, jovens ou maduros, que sofreram um processo de aprendizado e formação intelectual mais tradicional, linear, e que se acostumaram a assumir opiniões e valores polares. Contudo, o raciocínio não-dual se impõe e atropela, faz <em>comer poeira</em>, de uma forma quase darwiniana.<br />
Combinada a <em>superioridade competitiva</em> à aderência das novas gerações, podemos afirmar que essa será a forma de pensar do futuro próximo, e uma nova forma de pensar molda um novo mundo - ou ao menos uma nova sociedade. Não deve ser coincidência que essa revolução do pensamento individual seja contemporânea de igualmente grandes revoluções tecnológica e econômica - ainda falarei sobre elas, talvez organize uma <em>trilogia da revolução</em>.<br />
No anseio de me enquadrar como jovem, passei a tentar praticar o não-dualismo em meu cotidiano. Não vou mentir, não é nada trivial, mas os resultados são fantásticos - alguns copos de cerveja ajudam, mas em excesso induzem a certa euforia na avaliação dos resultados. Por exemplo, elimina-se todo e qualquer espaço a preconceitos, fobias, moralismos e padrões mentais pré-estabelecidos. Certo e errado, bom e ruim, a favor e contra: a natureza <strong>não é assim</strong>, e isso inclui a natureza humana. O não-dualismo é o respeito às diferenças, ao relativo, à individualidade e à coexistência.<br />
Isso não é pouca brincadeira. É uma onda avassaladora, e não poupa nenhuma área da vida social. Nos próximos anos, provocará as mais profundas mudanças na <strong>política</strong> - onde já existe um anseio contido mas mal compreendido -, na <strong>cultura</strong> - essa muito antes de qualquer outra -, na <strong>educação</strong> - talvez um pouco traumática, mas inevitável - e nos <strong>hábitos de consumo</strong> - não há nada mais distante dessa nova realidade que a propaganda comercial.<br />
As grandes instituições de nosso tempo - Estado, Igreja, Grande Mídia, O Mercado - estão completamente inadequadas a essa realidade nascente. Por grandes, lutarão pesado por sua sobrevivência, mas o processo não parece ser reversível. Já dizia um antigo professor meu: tudo muda, a mudança sempre vem, e chega um momento em que ela é inevitável; podemos apenas optar por abraçá-la ou combatê-la - sendo que eventualmente <u>ela vencerá</u>; muda-se pelo <em>amor</em> ou pela <em>dor</em>. Abraçar a mudança seria darwiniano, e há exemplos recorrentes na história da própria humanidade, mas o condicionamento mental humano sempre tende ao combate e à dor - na minha opinião, uma causa recorrente de várias coisas que podem ser todas classificadas como ruins.<br />
Mas combater mudanças definitivamente não é próprio do pensamento não-dual.Gustavohttp://www.blogger.com/profile/00247224172369043753noreply@blogger.com0